Ouro, prata, bronze e…Chumbo!

Você sabia:

Que foi pelo tiro que o Brasil ganhou suas primeiras medalhas olímpicas na história? O feito aconteceu nos dias 2 e 3 de agosto de 1920, nos Jogos Olímpicos de Antuérpia, na Bélgica. No dia 2, o Brasil ganhou duas medalhas, uma de prata, na prova de pistola livre 50 metros com o atirador Afrânio Costa, e uma de bronze, na pistola livre por equipe com Afrânio da Costa, Dario Barbosa, Fernando Soledade, Guilherme Paranaense e Sebastião Wolf. A sonhada medalha de ouro viria no dia seguinte, com o atirador Guilherme Paranaense no tiro rápido de 25 metros. O documentário do diretor José Roberto Torero Jr, “Ouro, prata, bronze e… Chumbo”, traz a trajetória da equipe que entrou para história do esporte olímpico brasileiro.

José Roberto Torero, é jornalista e escritor. É o diretor do Doc sobre Afrânio Costa, Dario Barbosa, Fernando Soledade, Guilherme Paraense e Sebastião Wolf. A equipe brasileira de tiro de 1920, que foram os nossos primeiros medalhistas.

Depois de 6 meses, o documentário nasceu. Como foi pra vc esse processo todo, desde a pesquisa até a finalização?

Acho que o mais charmoso seria dizer que foi um sofrimento, mas que heroicamente, tavez até epicamente, conseguimos chegar ao fim do filme. Mas não foi nada disso. A pesquisa trouxe novos elementos para o roteiros e as entrevistas foram interessantes. Quanto à fimagem, conseguimos atores ótimos e a filmagem foi tranquila, tudo saindo conforme o planejado. Talvez até melhor, pois inventamos novos planos e piadas.
Na edição tivemos material de sobra, o que fez o filme ficar bem enxuto, e descobrimos um interessante material de arquivo.
E a edição de som acrescentou mais uma camada de significados.
Enfim, saiu tudo conforme o planejado, ou até um pouco melhor.
Se houvesse um making off do processo, ele seria bem aborrecido, pois não houve um grande obstáculo a superar, um grande inimigo a vencer. Melhor assim.

Gravação do Documentário Ouro, prata e…Chumbo Foto:Jozzu

Conta um pouco da sua escolha em contar essa estória?

Duas coisas me chamaram a atenção para esta história. A primeira, óbvia, é o fato de ser a primeira vez em que o Brasil consegue medalhas olímpicas. A segunda foi a odisseia que os atletas tiveram que enfrentar para chegar à competição. Foram de navio (com cabines tão ruins que eles dormiam no bar), mas no meio do caminho descobriram que não chegariam a tempo e tiveram que ir de Portugal a Antuérpia de trem (nem sempre em vagões de passageiros). Tiveram as munições e alvos roubados e conquistaram suas medalhas com armas emprestadas na hora da competição.

Vc escreve já há um tempo uma coluna sobre futebol. O que te interessa no mundo olímpico?

A mesma coisa que no futebol: as histórias dos atletas, suas batalhas, suas graças e desgraças.

Fale um pouco das entrevistas. Quem e o que vc encontrou pelo caminho?

Entrevistamos familiares de dois atletas, Guilherme Paraense e Afrânio Costa, que ganharam ouro e prata individualmente (a equipe ainda ganhou um bronze coletivo). A neta do primeiro e o sobrinho—bisneto do segundo contaram um pouco o que as famílias sabem das histórias dos jogos e como eram os dois atletas. Depois falamos com o técnico da seleção brasileira e com uma atiradora, enfocando aspectos técnicos e emocionais do tiro.

O que vc espera desse documentário e o que as pessoas podem esperar dele?

Eu espero que as pessoas gostem e que se lembrem por muito tempo da história destes cinco sujeitos que tiveram que fazer várias peripécias para conquistar as primeiras medalhas para o Brasil. As pessoas podem esperar uma história diferente e contada de um modo pouco comum.

Torero, diretor do documentário. Foto:Jozzu

Guilherme Paranense, integrante da equipe de tiro na Olimpíada da Antuérpia, 1920

Todos nós adoramos as estreias: a primeira página do caderno novo, o primeiro beijo na boca, o primeiro maço de cigarro, a primeira vez… Mas, curiosamente, não damos muita bola para a primeira Olimpíada da qual participamos, a de 1920. E não faltam motivos para que nos interessemos pelos Jogos de Antuérpia: ali ganhamos nossa três primeiras medalhas (uma de cada metal) e tivemos nossa melhor colocação até hoje, um honroso 15o. lugar.

Mas poucos sabem que as três medalhas do Brasil foram obtidas pela equipe de tiro. o nome de Guilherme Paraense é até citado como nosso primeiro ouro, contudo não sabemos que era um tenente e muito menos que competiu com uma arma emprestada por um competidor americano.

Quanto ao vencedor da medalha de prata, não sabemos que seu nome era Afranio Costa e que chegou a ministro do Tribunal Federal de Recursos, algo como o STF de hoje.

E sobre os outros cinco que ganharam a medalha de bronze por equipe? Desses não sabíamos nada mesmo. Não sabemos que, além de Afranio Costa e Paraense, havia o médico gaúcho Dario Barbosa, com seu vasto bigode, o alemão (sim, alemão) Sebastião Wolf, que tinha 51 anos na época, e o médico Fernando Soledade, que competia com um imenso chapéu que lhe dava um ar de guarda florestal.

Estes nossos primeiros medalhistas viveram uma epopéia. Para começar, viajaram num navio tão ruim que, em vez de dormirem na cabine, dormiam no bar, depois da saída do ultimo cliente. Mas o pior foi quando perceberam que o lento navio não chegaria a tempo na Bélgica. Então desceram em Lisboa e fizeram o resto de trem, boa parte em vagão descoberto.

Pois bem: não sabemos quase nada desses nossos heróis olímpicos. E é uma pena, porque suas histórias são excelentes. Eles fora, o primeiro a vencer. E os primeiros a serem esquecidos. Até agora, quando terão suas trajetórias contadas nesse documentário.

Dividiremos o filme em cinco partes: viagem (com apresentação dos personagens), abertura das Olimpíadas, treinamento, primeiro dia de provas (com prata e bronze) e dia final, com a primeira medalha de ouro do Brasil.

José Roberto Torero

Ficha técnica:

Documentário: “Ouro, prata, bronze e… Chumbo”

Produtora: GW São Paulo Comunicação S/A

Diretor: José Roberto Torero Jr.

Localidade: São Paulo (SP)

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