Você sabia:
Que no dia 20 de julho de 1952, José Telles da Conceição foi o primeiro representante brasileiro da história do atletismo a subir ao pódio? O feito aconteceu nos Jogos Olímpicos de Helsinque, na Finlândia. José Telles conquistou a inédita medalha de bronze no salto em altura.
O documentário do diretor André Klotezl, “De Olaria a Helsinque – A história de um Salto” traz a história do multiatleta que além de representar o Brasil no salto triplo e no salto em altura em 1952, também representou o país nos 200 metros rasos e revezamento dos 4×100 metros nas Olimpíadas de 1956 em Melbourne, na Austrália, e nos 200 metros rasos nos Jogos de 1960 em Roma, na Itália.
André Klotzel, cineasta com vários filmes em sua trajetória, entre eles A Marvada Carne e Reflexões DE UM LIQUIDIFICADOR, é diretor do DOC: De Olaria a Helsinque: a história de um salto, sobre o atleta José Telles da Conceição.
Depois de 6 meses, o documentário nasceu. Como foi pra vc esse processo todo, desde a pesquisa até a finalização?
Eu teria que manter um diário para me lembrar do que foi percorrido nessa trajetória. Para mim o processo de um filme é como um caminho em que se tem planejado o ponto de chegada mas não se sabe exatamente por onde percorre a trilha para chegar lá.
E a coisa mais importante neste percurso foi o envolvimento com o personagem. Eu admirava o José Telles da Conceição mas não tinha muita consciência da personalidade dele nem do que ele representou em sua época, principalmente para colegas, amigos e família. Descobri que atrás do grande atleta existia o bom caráter, bon-vivant, com um humor tipicamente carioca. Uma pessoa leve, elegante e altiva mas sem falso-orgulho, sem nada de postiço na sua imagem.
Sem jamais ter visto ele, só aprofundando o conhecimento pelas histórias que as pessoas contavam e as fotografias que ainda restavam, o Telão me encantou. E acho que isso foi o mais importante, porque fui ficando cada vez mais convicto da justeza de fazer essa pequena biografia (e tenho certeza que o personagem não se esgotou, existe muito ainda por contar).
Como cineasta, permanecer acreditando em uma história até o fim é o mais importante, porque mantém o processo íntegro, mesmo que o percurso vá se alterando ao longo da trajetória. E isso dá uma sensação de recompensa que justifica todo o envolvimento.
Porque José Telles da Conceição?
Ele é o paradigma do atleta excepcional e esquecido. Excepcional pelas características de talento múltiplo em nível de competitividade olímpica, e esquecido porque talvez nunca foi devidamente festejado, nem no auge da carreira. Em um projeto que se destina a resgatar a memória, nada melhor do que um personagem com estas características.
Conta sobre as entrevistas? Com quem vc falou? Que histórias vc ouviu?
São muitas histórias e, previsivelmente, não cabem todas em um único filme. Muito menos em uma pequena entrevista como essa. Mas por enquanto ainda foram conversas telefônicas, ou feitas pelo pessoal que está fazendo a pesquisa do filme. Eu evito conversar com o entrevistado antes da gravação, como uma forma de manter uma curiosidade genuína no momento mais importante. Por isso, vou me esquivar de responder essa pergunta…
O seu pensamento sobre o José Telles e o mundo que o envolve mudou desde o momento que vc começou a se aproximar dele?
Mudou muito. As informações disponíveis no primeiro contato eram muito precárias. Há fatos errados em buscas de internet, coisas mal explicadas na pouca literatura disponível. Ao juntar melhor os fragmentos de informações, receber imagens de pesquisas, ouvir histórias de pessoas que conviveram com ele, muita coisa se esclareceu. Ficou claro que tipo de atleta ele era e isso vai estar no documentário. Esse eu acho que é um grande valor dessa série: ela congrega informações soltas e, tenho certeza, a próxima pessoa que procurar saber sobre o Telles terá uma experiência muito melhor que a minha.
O que vc espera deste doc?
Além de juntar as informações dispersas por aí sobre o Telles, como falei acima, espero falar um pouco sobre o processo da memória negligenciada, que vai aos poucos se perdendo – enfim, falar sobre a memória em si.
José Telles da Conceição é um vencedor vencido. Vencedor porque nasceu pobre e parecia destinado a uma vida de dificuldades. Magro e alto, foi descoberto por um olheiro do Vasco da Gama. A partir daí se tornou um demolidor de recordes, tanto nas provas de velocidade quanto nas de salto.
É um vencedor porque no dia 20 de julho 1952, nos Jogos Olímpicos de Helsinque, alcançou a marca de 1,98 metro no salto em altura e conquistou uma inédita medalhada de bronze. Tinha 21; foi o primeiro representante do atletismo brasileiro a subir a um o pódio.
Mas Telles é também um vencido. Dias depois de ter obtido o bronze na Finlândia e ter se tornado candidato a celebridade, seu triunfo foi ofuscado pela conquista do ouro no salto triplo por Adhemar Ferreira da Silva. José Telles da Conceição desembarcou no Rio de Janeiro com a medalha, mas não com o reconhecimento que merecia.
O atleta conquistou ainda vitórias importantes em Jogos Pan-Americanos e o recorde brasileiro obtido por ele no salto em altura (2m) perdurou por 19 anos.
Este projeto pretende apresentar ao público um superatleta, que podia competir em alto nível nas provas de 100m rasos, 110m com barreiras, 400m com barreiras, salto em distância, salto triplo, salto em altura e até no decatlo. Um fenômeno que quebrou 21 recordes em cinco modalidades diferentes, até encerrar a carreira em 1966.
José faleceu em 18 de outubro de 1974, vítima de um assassinato.
Ficha técnica:
Documentário: “De Olaria a Helsinque: a história de um salto”
Produtora: DIG Produções
Diretor: André Klotzel
Localidade: São Paulo (SP)