Por Fredi Cardozo,

 

Documentário: “A Volta ao mundo de Anésio Argenton”

Um dia na oficina…

São Paulo, 26 de fevereiro de 2013 – Depois de empurrar o Fusca 1963 da garagem do restaurador Marcos Pescarollo e aguardar que uma roda fosse buscada na oficina, localizada a alguns quilômetros de distância, a equipe da Janeiro Filmes dava os últimos retoques para mais um dia de gravação. Enquanto isto, os diretores Marcelo Paiva e Fernando Acquarone conversavam com a reportagem sobre o documentário: “A Volta ao mundo de Anésio Argenton”. Motivados pelas imagens proporcionadas pelo ciclismo, a dupla carioca encontrou em Argenton o personagem ideal e a inspiração necessária para estrear no formato proposto pelo Edital Memoria do Esporte.

Bicicleta italiana Cinelli

A bicicleta terá um papel especial neste roteiro. A história do homem simples e batalhador de Araraquara será contada, segundo Marcelo e Fernando, enquanto um dos modelos usados por Anésio em competições é restaurado – a bicicleta italiana Cinelli.

Os diretores falaram empolgados sobre o documentário que fará muita gente querer sair andando de bicicleta. Conheça um pouco mais sobre esta produção na entrevista com os cineastas:

Diretores Fernando Acquarone e Marcelo Paiva

De onde veio à inspiração para falar sobre o Anésio?

Marcelo.
Começou pelo interesse pela bicicleta, contar a história de um ciclista e de uma bicicleta. Com isso a gente descobriu a história do Anésio, que é muito interessante. A história dele é bem diferente do que é o normal do herói, atleta. O diferente na história dele é que ele venceu muitas barreiras. Ele era humilde, do interior, e foi fazer um esporte que era difícil para ele. Então, teve esta história dele ser o cara do interior, simples, tímido, mas que ganhou o mundo.

Fernando.
O cara era um peão da Ferroviária, ele era torneiro mecânico e, na verdade, entrou por acaso no ciclismo. Ele começou a fazer entrega (antes de trabalhar na ferrovia), ele fazia entrega para um açougue, de bicicleta. E, ele não sabia andar, foi ali que ele começou a aprender, na marra. Depois tomou gosto, começou a participar de competições e ninguém mais segurou o cara. Então, ele era realmente um monstro.

Anésio Argenton e sua esposa
Anésio Argenton

E antes do Edital do Memória vocês já conheciam a história dele? Ou foram atrás por causa da participação no concurso?

Fernando.
Na verdade foi mais através do edital. Nós achamos a linha do Edital muito bacana. Ficamos muito empolgados e começamos a fazer pesquisa de atletas, mas tendo já em mente que o ciclismo renderia muitas imagens bacanas.

Vocês já haviam feito algum trabalho semelhante a este?

Marcelo.
Pra mim este filme é diferente. É um filme mais longo. A gente já fez alguma coisa de atleta mais atual, mas resgatar a memória é uma novidade. Contar uma história em uma peça mais longa da para a gente aprofundar mais os temas e explorar mais o visual. Estamos explorando muito o visual da bicicleta e do ciclismo também.
Fernando.
O bacana é que está sendo um trabalho muito investigativo pra gente. Por que a história do Anésio não está escrita, no fundo, quem está escrevendo ela é a gente. Então, nós temos uma responsabilidade tremenda nas costas pra contar está história. Está sendo muito legal porque cada personagem puxa outro personagem, que puxa um fato que a gente não conhecia, então, esta pesquisa está empolgando bastante.

Vocês conseguiram um material junto à outra produtora, que conseguiu entrevistá-lo antes de falecer. Como foi esta relação com eles e o uso deste material?

Fernando.
Foi super legal, por que no primeiro edital que a gente entrou tanto a Janeiro Filmes quanto a Sete Filmes foram finalistas para o Pitching, mas acabou que todo mundo morreu na praia. Neste segundo edital a gente passou e eles não, aí eles ofereceram estas imagens para nós. Nós já estávamos em contato com eles desde o primeiro edital, aí, enfim, quem ganhasse, o outro ia dar uma força, aquela coisa para poder contar a história do Anésio. Enfim, a gente fez um acordo com eles e compramos as imagens. O que foi ótimo, porque é uma entrevista supercompleta e bem feita.
Marcelo.
Foi legal que surgiu uma parceria, nossa relação foi muito boa com eles. Toda a pesquisa que eles fizeram (pesquisa de imagem), eles passaram para nós também.

Por que esta história é tão importante ser contada?

Fernando.
Eu acho que esta história engloba várias outras histórias e não só a do ciclismo. É a história da força de vontade de uma pessoa que consegue quebrar os limites impostos (de dinheiro e apoio). É a história de uma pessoa que tinha talento, botou uma coisa na cabeça e foi embora. Então a gente quer contar esta história, não a história do herói, mas a história do cara batalhador, pé no chão, humilde e que ainda tem o melhor resultado do Brasil em olimpíadas.
Marcelo.
Tem coisa legal, eu acho que com esse filme a gente quer e vai surpreender muito as pessoas. Tem muita coisa nova. A gente está tentando trazer todas as nuances que ajudaram a construir este personagem. Os ambientes, os amigos e a cidade toda (Araraquara), vão ajudar a contar essa história. Vai surpreender, vai ser diferente.

Set de filmagem

Como vocês esperam que o filme fique no final?

Fernando.
Eu acho que visualmente o filme vai ficar um brinco, esteticamente vai ficar muito bacana. De narrativa a gente quer envolver o telespectador. Não só com a história dele, mas também com outros elementos que a gente está usando também, que é a reforma da bicicleta – a própria bicicleta dele vai contar um pouco da história do Anésio. A gente vai usar imagens de apoio de velódromo, que acho que nunca foram usadas aqui no Brasil. Então, são uma série de elementos que irão ajudar tanto na narrativa, quanto na estética.

O Projeto Memoria do Esporte, além de resgatar belas historias, espera inspirar o telespectador. Vocês acham que estes filmes vão alcançar este resultado?

Fernando.
Eu acho que vai sim. O Anésio, por exemplo, já incentivou muitos jovens em Araraquara, mas é uma coisa muito localizada. A intenção deste filme é colocar o nome dele no mapa, no Brasil inteiro e quem sabe no mundo também.
Marcelo.
A gente está contando uma história que tem um personagem legal. Um personagem que foi muito vencedor na época. Um brasileiro, ou um sul-americano, conseguir as marcas que ele conseguiu ninguém pensava ser possível. E, além disso, a gente tem a história de que as pessoas vão querer andar de bicicleta. Eu quero que acabem de ver o filme e queiram ir andar de bicicleta, comprar uma, ir para um velódromo, sabe? A história da bicicleta também é importante no filme e é uma coisa que todo mundo teve e esta é uma forma diferente de ver a bicicleta e de querer praticar mesmo o esporte.

E o processo de pesquisa está sendo trabalhoso, gostoso, prazeroso? Como vocês descrevem?

Fernando.
Tem sido fácil e difícil. Fácil no sentido de que o Anésio era uma pessoa muito querida, então tem bastante gente para falar dele. E difícil porque a faixa etária do nosso time é bem elevado, então a gente tem que entrar no ritmo deles, estamos fazendo um filme com um ritmo mais leve, mais clássico, não muito moderno. A gente quer quase fazer um filme de época.

E como anda a correria de vocês entre São Paulo e Rio de Janeiro?

Marcelo.
Não faltaram desafios e obstáculos para fazer este filme. Nós somos do Rio e vir para São Paulo realmente dificulta um pouco para encontrar as pessoas. E tem o desafio de já ter um tempo os arquivos, são poucos e difíceis de acessar. Mas está sendo divertido vir para São Paulo e ir para Araraquara. Foi um desafio de logística e pesquisa, mas já estamos terminando e está sendo muito bacana.
Fernando.
A cidade de Araraquara entrou muito também nesse clima do filme, sabe. Então a gente está tendo muito apoio de todo mundo lá. Foi uma cidade super receptiva. Agora, como o Marcelo falou, enfim, em termos de material de arquivo, a gente tem acesso às fotos, mas vídeo é uma coisa muito rara. De Melbourne e de Roma as imagens do Anésio são escassas eu adoraria ter mais para poder mostrar, mas a gente conseguiu garimpar uma coisa ou outra.

Ze Mario Blasq, Levy Said, Marcelo Paiva, Marcos Pescarollo, Fernando Aquarone, Daniel Venosa

O que vocês podem adiantar para o público, do filme de vocês?
Fernando.

No Brasil, nunca vi um filme de ciclismo como vai ser este aqui. Nós vamos falar dos pioneiros do ciclismo no país, que até hoje é uma modalidade que não é muito popular, embora, nas olimpíadas, tenha suma importância porque é uma das modalidades que traz mais medalhas no quadro. Eu acho que para o pessoal que já gosta de bicicleta vai ser um prato cheio e os que têm interesse, mas não conhecem, eu acho que vão querer passar a conhecer mais do ciclismo de pista.

Diretores Marcelo Paiva e Fernando Acquarone

Ficha técnica:

Documentário: “A Volta ao mundo de Anésio Argenton”

Produtora: Janeiro Filmes

Diretores: Marcelo Paiva e Fernando Acquarone

Localidade: Rio de Janeiro

Sinopse: Originário de um período em que o ciclismo não era considerado um esporte profissional, Anésio Argenton representa toda uma geração de atletas que surpreendeu seu país ao superar a pobreza para atingir o sonho olímpico. Apesar das inúmeras dificuldades, Argenton participou dos Jogos Olímpicos de Melbourne, em 1956, onde obteve o melhor resultado do Brasil na história das Olimpíadas em provas de pista, recorde que permanece inalcançado; e de Roma, em 1960. Além disso, Argenton é o único brasileiro medalhista de ouro em Jogos Pan–americanos na modalidade (Chicago, 1959).

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