Por Hélio Alcântara,

Albânia, Etiópia, Ilhas Seychelles, Madagascar e Nicarágua boicotaram os Jogos Olímpicos de Seul-88. Até aí, nada de mais, já que eram nações sem nenhuma tradição em esportes olímpicos. A exceção era a Etiópia, com seus atletas maravilhosos de provas de fundo do Atletismo.

Mas quem fez falta realmente foi Cuba. A Ilha (e os países citados acima) boicotou a Olimpíada em solidariedade à Coréia do Norte, que pediu ao COI-Comitê Olímpico Internacional para sediar parte do evento e não foi atendida. Certamente, o planeta deixou de admirar grandes atletas cubanos em ação.

Alheia a esse movimento, a Coréia do Sul tratou de organizar uma olimpíada inesquecível. País emergente na época, em franca ascensão econômica, levantou várias edificações para o evento milionário, disputado entre 17 de setembro e 2 de outubro de 1988.

Milionário, sim, pois os Jogos Olímpicos haviam se transformado (já em 1984) em um grande negócio. O “protagonista” eram os direitos de transmissão de TV – o COI os vendeu à NBC por 300 milhões de dólares. E lá se foi a rede americana para o outro lado do planeta, desembarcando em Seul com seus mil funcionários e uma parafernália impressionante de equipamentos, como relata Katia Rubio em seu livro “Heróis Olímpicos Brasileiros”, de 2004. E, confirmando o caminho apontado por Los Angeles-84, os Jogos de Seul geraram um lucro de 350 milhões de dólares.

No campo esportivo, Seul-88 também foi um sucesso: um recorde de 159 países participantes e 8.391 atletas (2.194 mulheres) para disputarem 27 esportes. Mas, infelizmente, os Jogos de Seul ficariam marcados por uma mancha antiesportiva: o doping.

Na prova mais nobre do Atletismo (100m), o canadense Ben Johnson disparou à frente dos seus sete adversários, deixando evidente sua enorme superioridade e cruzando a linha de chegada com o tempo de 09”79 (nove segundos e setenta e nove centésimos). Mas era uma superioridade mentirosa. Três dias depois, o tempo assombroso do atleta canadense e a comoção que se apossou das arquibancadas no estádio olímpico no momento da prova se revelariam uma fraude. O resultado do exame antidoping era definitivo: Johnson havia ingerido esteroides anabolizantes e correu dopado. Acabou eliminado da Olimpíada e nunca mais se ouviu falar dele.

OS DESTAQUES

Carl Lewis, dos EUA, herdou a medalha de ouro conquistada por Johnson, nos 100m, com o tempo de 09”92 (nove segundos e noventa e dois centésimos).

No feminino, a também americana Florence Griffith-Joyner deixou os espectadores impactados. Conquistou três medalhas de ouro (100m, 200m e revezamento 4x100m) e uma de prata (revezamento 4x400m). “Flo-Jo” já havia conquistado uma prata nos 200m, nos Jogos de Los Angeles, quatro anos antes.

No Heptatlo feminino, Jackie Joyner-Kersee estabeleceu o recorde de 7.291 pontos e levou a medalha de ouro – em Los Angeles-84, Jackie havia conquistado a medalha de prata. E no Salto em Distância, a atleta americana também levou o ouro. Jackie ainda disputaria mais duas olimpíadas e chegou a ser eleita “a maior atleta feminina do século XX” pela revista Sports Illustrated.

Na Natação, dois personagens tomaram conta das piscinas. No feminino, a alemã oriental Kristin Otto conquistou o recorde (para mulheres) de seis medalhas de ouro em uma só edição de Olimpíadas. E, no masculino, Matt Biondi, dos EUA, ganhou sete medalhas – cinco de ouro, uma de prata e outra de bronze. Chegou perto de Mark Spitz, mas poderia ter encostado no então recordista com seis medalhas douradas. Na prova dos 100m borboleta, Biondi perdeu o ouro por um centésimo de segundo. Absurdo.

Seul-88 também viu a derrota inesperada do basquete americano, que no ano anterior havia sido vítima do basquete brasileiro, ao ser derrotado na final do Panamericano de Indianápolis – o detalhe dessa derrota é que os americanos venciam o time de Marcel, Oscar e Ary Vidal por mais de 20 pontos. Em Seul, os americanos não ficaram nem com a medalha de prata – foram bronze. Os soviéticos foram os campeões e os iugoslavos ficaram com a medalha de prata.

No quadro geral final de medalhas, a URSS ficou em 1º lugar, com 132 medalhas (55 de ouro), a Alemanha Oriental em 2º, com 102 (37 de ouro), e EUA em 3º, com 94 medalhas (36 de ouro). A anfitriã Coréia do Sul obteve 33 medalhas (12 de ouro), e a Alemanha Ocidental 40 medalhas (11 de ouro), ficando em 5º lugar.

O BRASIL EM SEUL-88

Os Jogos de Seul-88 não foram dos piores para o esporte brasileiro, ainda sem contar com planejamento adequado e ações visando à massificação do esporte no país. Entre 52 nações, o Brasil terminou em 24º, com seis medalhas no total – uma de ouro.

A imagem dos Jogos de Seul para o Brasil é aquela em que o judoca Aurélio Miguel, ao final de sua luta e ainda com os joelhos dobrados sobre o tatame, abre os braços e celebra a vitória de ouro na categoria meio-pesado.

Para conquistar a medalha de ouro, no entanto, Aurélio Miguel teve de enfrentar a gestão tenebrosa de Joaquim Mamede, então presidente-ditador da Confederação Brasileira de Judô. Alijado dos Jogos de Los Angeles, quatro anos antes, sem explicações, Miguel se preparou em silêncio para Seul. Antes, levou o ouro no Panamericano de Indianápolis-87. E, para chegar ao ouro olímpico, lutou quatro vezes. Nas quatro, derrotou seus oponentes mais pela estratégia do que pela força, como relatado no livro “Heróis Olímpicos Brasileiros”, de Katia Rubio. E também a desconfiança desrespeitosa dos dirigentes da CBJ. Antes da luta final, eles entraram no vestiário e disseram a Miguel que a medalha de prata já seria suficiente. E, dizendo “não” a si próprio, Miguel obteve a maior conquista de sua vida como judoca.

Além do Judô, o país saiu-se bem no Atletismo, na Vela e no Futebol.

Joaquim Cruz conquistou a medalha de prata nos 800m, com o tempo de 1’43”90 centésimos. Robson Caetano, bem mais concentrado do que em Los Angeles-84, chegou em 3º nos 200m e ficou com a medalha de bronze (20”04 centésimos).

O futebol brasileiro chegou à final, mas não venceu. Perdeu para a União Soviética (2×1, na prorrogação), mesmo atuando com uma equipe recheada de profissionais e de jogadores que se tornariam campeões mundiais (Taffarel, Mazinho, Jorginho, Bebeto e Romário).

A Vela, como sempre, continuou trilhando seu caminho sério e solitário. Praticamente alheio às atividades do COB-Comitê Olímpico Brasileiro e desenvolvendo seu próprio planejamento, as duplas Torben Grael-Nelson de Barros Falcão (classe Star) e Lars Grael-Clínio Freitas (classe Tornado) conquistaram duas medalhas de bronze.

O basquete brasileiro, liderado por Oscar, conseguiu um ótimo 5º lugar na classificação final e, de quebra, viu seu maior cestinha (o próprio Oscar) estabelecer o recorde olímpico de pontos em um mesmo jogo (55) – contra a Espanha, na fase inicial de grupos.

O vôlei brasileiro masculino mostrava que o caminho da profissionalização idealizado no país alguns anos antes estava correto. Não demoraria, inclusive, para começar a dar frutos. Nos Jogos de Seul-88, o Brasil ficou na quarta colocação, atrás apenas de EUA, URSS e Argentina, para quem perdeu a medalha de bronze. No feminino, o Brasil ficou em 6º lugar.

Quando: 17/09/1988 a 01/10/1988

Países participantes: 159

Total de atletas: 8.391 (masculino: 6.197, feminino: 2.194)

Total de modalidades: 25

Total de medalhas distribuídas: 739

Participação do Brasil: 24º lugar

MEDALHAS BRASILEIRAS

Modalidade: Judô

Prova: Meio-pesado masculino

Atleta: Aurélio Miguel

Resultado: Medalha de ouro

Modalidade: Atletismo

Prova: 800m masculino

Atleta: Joaquim Cruz

Resultado: Medalha de prata

Modalidade: Futebol

Prova: Masculino

Atletas: Ademir Roque Kaefer, Aloísio Alves, André Cruz, Cláudio André Mergen Taffarel, Edmar Bernardes dos Santos, Geovani Silva, Hamilton de Souza, Iomar Nascimento (Mazinho), João Santos Batista, Jorge de Amorim Campos (Jorginho), Jorge Luiz Andrade da Silva (Andrade), José Araújo, José Ferreira Neto (Neto), José Roberto de Oliveira (Bebeto), Luiz Carlos Winck, Milton de Souza Filho, Nelson Kerchner, Ricardo Raimundo, Romário de Souza Faria, Sérgio Donizete Luiz, Valdo Candido.

Resultado: Medalha de prata

Modalidade: Atletismo

Prova: 200m masculino

Atleta: Robson Caetano

Resultado: Medalha de bronze

Modalidade: Vela

Prova: Star

Atletas: Nelson Falcão, Torben Grael

Resultado: Medalha de bronze

Modalidade: Vela

Prova: Tornado

Atletas: Clínio de Freitas, Lars Grael

Resultado: Medalha de bronze

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1 Comment

  • O Jogos Paraoledmpicos parece que tem mesmo uma gardne importe2ncia para os portadores de deficieancia e consequentemente para toda a sociedade. E como, ao que tudo indica, ne3o existem treinamentos exagerados, desgastantes, deve mesmo ser assim.Pore9m eu sou contra os Jogos Oledmpicos e todas as atividades esportivas que exigem demais do corpo. Os treinamentos se3o altamente prejudiciais e0 safade. Os mfasculos e, principalmente os ligamentos e tendf5es, ne3o suportam o esfore7o exagerado e, depois de anos, decorrem as consequeancias avassaladoras.Ocorre que Os Jogos Oledmpicos passaram a representar demonstrae7e3o de fore7a, poderio e desenvolvimento para as nae7f5es, que investem pesadedssimo na formae7e3o dos atletas. E as criane7as se3o criminosamente seduzidas e conduzidas ao sacrifedcio, em nome da vaidade e ambie7e3o das famedlias e dos interesses poledticos e econf4micos dos paedses.No caso das meninas a situae7e3o ainda e9 mais drame1tica, por causa do ciclo menstrual que elas tem que administrar ao arrepio da natureza, muitas vezes e0 custa de medicamentos.Nem por toda a fama e dinheiro do mundo eu incentivaria um filho ou filha a embrenhar por esse caminho. Pelo contre1rio, tudo faria para dissuadi-los, fosse o caso.