Sócrates nos ensinou até o final. O Doutor, também filósofo, nos deu o privilégio de sua última aparição pública, no I Encontro Temático Esporte, Cultura e Memória, na quarta-feira (30/11). E falou não só sobre Olimpíada e esporte, mas também sobre a vida e como podemos crescer como seres humanos.

“O esporte é fascinante. É muito mais importante que a vitória, trata-se de você atingir seu limite. Eu nunca me esqueço da maior vitória que eu vi na vida: quando uma corredora de maratona chegou absolutamente exausta, com câimbras, sem disputar nada, mas fez questão de terminar a prova. Isso é muito mais importante que qualquer vitória. Até porque a vitória não é importante, ela não nos ensina, nos emburrece. A derrota nos faz reavaliar quem somos, o que somos, quem pretendemos ser, como crescer enquanto seres humanos”, disse.

O jogador de futebol analisou ainda sobre o esporte como cultura. Disse ter crescido na biblioteca do pai, um autodidata, e vivenciado o regime militar de perto. “Quando veio o golpe eu tinha 10 anos e tivemos que abrir mão de livros que poderiam ser interpretados como agressivos ao regime que se avizinhava, para não sofrermos as consequências. Com 14 anos eu recebi a notícia da morte de Martin Luther King, que eu sabia mais ou menos quem era. Nesse mesmo ano, comecei a acompanhar a movimentação em Paris, na Sorbonne. E depois vieram os Panteras Negras na Olimpíada do México. Mais velho, em 1972, também assisti ao Massacre de Munique. A paixão pelo esporte me fez buscar mais culturas”.

A plateia, formada pelos produtores e diretores que venceram o primeiro edital do projeto Memória do Esporte Olímpico Brasileiro, ouviu atentamente as lições do Doutor.

Alguns meses antes, no lançamento do projeto, Sócrates nos brindava com outra reflexão, dessa vez sobre memória: “Hoje não temos nada. Aliás, nós somos os anti-orientais: quanto mais velhos, mais descartáveis.” Ele foi um dos idealizadores do Programa Petrobras Esporte & Cidadania.

Obrigado, Sócrates, por tudo.

Sócrates, Magic Paula, Wlamir Marques e os participantes do I Encontro Temático Esporte, Cultura e Memória, em 30/11/2011 (Foto: Valeria Grzywacz)

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1 Comment

  • Cândida Schwenck 11 anos atrs

    Emocionante! Um filosofo que também gostava de futebol. Para um pais que quer fazer bonito em 2016, precisa valorizar seus atletas. Para que nossos futuros atletas tenham no Sócrates um modelo.