Por Hélio Alcântara,

O atentado terrorista em Nova York, em 11 de setembro de 2001, mudou o mundo. E o medo passou a permear praticamente todas as preocupações das pessoas que viajavam a passeio ou a trabalho. E outro atentado, dessa vez em Madri e a poucos meses da abertura dos Jogos (11/03/2004), transformou a ida aos Jogos Olímpicos em quase um pesadelo. Imprensa, dirigentes esportivos e atletas profissionais que iriam a Atenas estavam naturalmente entre essas pessoas angustiadas e tensas. O risco de um novo atentado ocorrer durante um dos maiores eventos esportivos do planeta era plenamente possível.

Os Jogos Olímpicos de Atenas-2004 foram os primeiros a ser realizados após os dois atentados. E, apesar de todo o receio e da imensa preocupação com a segurança, as duzentas e uma nações filiadas ao COI (Comitê Olímpico Internacional) enviaram seus atletas (a última vez em que isso tinha ocorrido foi em Atlanta-96). Queriam, com sua presença maciça, dar um recado às organizações terroristas, de que não se intimidariam com qualquer tipo de pressão. O número de atletas enviados foi espetacular: 6.296 homens e 4.329 mulheres, que disputariam trinta e cinco modalidades esportivas durante dezesseis dias (o futebol começou em 11 de agosto, antes, portanto, da cerimônia de abertura).

Ao mesmo tempo, o comitê organizador dos Jogos de Atenas e o próprio governo grego estavam sob enorme desconfiança. O COI chegou inclusive a ameaçar cassar o direito grego de sediar a primeira e mais simbólica Olimpíada deste século. As obras relacionadas à infraestrutura da cidade e principalmente aos locais de competição estavam incrivelmente atrasadas – tudo levava a crer que não estariam prontas a tempo.

A pouco mais de seis meses da abertura dos Jogos, diversas obras ainda não haviam sido concluídas. O palco da cerimônia de abertura e de encerramento dos Jogos (Estádio Olímpico), o parque aquático, as reformas no sistema de transporte da cidade (incluindo a expansão do metrô), o novo aeroporto internacional e as restaurações do centro arqueológico, tudo estava inacabado.

Ao fazer as contas, os gregos haviam gastado uma fortuna: cerca de US$ 4,6 bilhões (quatro bilhões e seiscentos milhões de dólares), ou, aproximadamente, R$ 9,2 bilhões (nove bilhões e duzentos milhões de reais, no câmbio de abril/2013). Quinze por cento desse montante foram aplicados no sistema de segurança dos Jogos. Ainda assim, houve quem duvidasse até o fim da capacidade grega de evitar atentados terroristas: a delegação de basquete profissional americano, por exemplo, achou mais seguro se hospedar em um transatlântico, ancorado em Atenas. E todos os 538 atletas contaram com o “auxílio” de 600 militares…

Apesar das desconfianças, Atenas calou todos os críticos. No dia 13 de agosto tudo estava lá. E, durante o pouco mais de duas semanas de evento, a segurança foi impecável. Além disso, a simpatia e hospitalidade do povo grego acabaram por seduzir e deixar relaxados turistas e torcedores de todos os cantos do planeta.

O único senão aconteceu no último dia de competição, quando o maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima foi atacado por um manifestante, no km 36. Mas, seguiu em frente e concluiu a prova (leia abaixo).

Na cerimônia de abertura, os presentes ao Estádio Olímpico fizeram uma espécie de viagem no tempo, ao serem remetidos à Antiguidade e aos criadores das Olimpíadas. O comitê organizador, aliás, definiu alguns locais e trajetos propositalmente, estabelecendo a relação imediata entre os Jogos atuais e os de 2.500 anos antes. O trajeto feito pelo herói grego Fidípedes foi repetido pelos atletas, em Atenas-2004. A cidade de Maratona sediou a largada da prova que leva seu nome. O Arremesso de http://www.chicagobearsjerseyspop.com Peso foi todo disputado em Olímpia. Tiro com Arco, no Estádio Panathinaiko – que sediou os Jogos de 1896. E o Estádio Olímpico recebeu o Atletismo e a final do Futebol.

DOPING

O COI continuou sua “cruzada” antidoping nos Jogos de Atenas-2004. E, para evitar mais surpresas desagradáveis (como as que ocorreram nas edições anteriores), promoveu exames antidoping obrigatórios às vésperas do início das competições. Mesmo assim, ao final dos dezesseis dias de disputa, vinte e quatro casos Liebling positivos tinham sido detectados.

Um caso que chamou a atenção de toda a comunidade esportiva mundial foi o que envolveu Kostas Kenteris e Ekaterina Thanou, duas estrelas do atletismo grego. Convocados, ambos faltaram aos exames obrigatórios – alegaram um misterioso “acidente” de moto. Nenhum dos dois competiu em Atenas-2004. E, pior, provocaram uma desconfiança nos torcedores estrangeiros e, principalmente, nos fãs gregos.

OS DESTAQUES

Françoise Mbango, de Camarões, saltou 15,30 metros e levou a medalha de ouro no Salto em Distância Feminino. Em Pequim-08, ela repetiria a dose.

Em sua terceira olimpíada, a britânica Kelly Holmes conquistou o ouro nos 800m e nos 1.500m. Com o feito e aos 34 anos de idade, Holmes tornou-se a mulher mais velha a conquistar qualquer uma das duas provas.

Birgit Fischer, da Alemanha, é um fenômeno mundial. Em Atenas-2004 ela disputou sua sexta olimpíada – e poderiam ter POKAL: sido sete, caso a antiga Alemanha Oriental não tivesse boicotado os Jogos de Los Angeles-84. Fischer ganhou pelo menos uma medalha de ouro em todas as edições de que participou, e, em Atenas, aos 42 anos, foi ouro na modalidade K4 500m e prata na K2 500m, da Canoagem. No total, a atleta alemã conquistou oito medalhas de ouro e quatro de prata.

Nos 100m feminino, Yuliya Nesterenko, da Bielorrússia, ganhou a medalha de ouro, mas, no cômputo final geral, a delegação da Jamaica se destacou, com presença constante nos pódios do Atletismo.

No atletismo masculino, Hicham El Guerrouj venceu os 1.500m e os 5.000m. O fenômeno marroquino dominou as provas de meio fundo por quase uma década, vencendo oitenta e três das oitenta e seis provas disputadas. O resultado em Atenas-2004 foi apenas a sequência de um trabalho árduo e muito bem feito.

No Futebol e no Basquete, os argentinos sagraram-se campeões, depois de cinquenta e dois anos – o Brasil não conseguiu classificação para Atenas-2004 em nenhuma das duas modalidades. Um dos destaques da seleção argentina era Tevez, que no ano seguinte defenderia o Corinthians. E Manu Ginóbili, que já atuava pelo San Antonio Spurs, na NBA, era o grande astro do time de basquete.

No Judô, só deu Japão: dez atletas do país chegaram à final e oito deles ganharam a medalha de ouro. Tadahiro Nomura tornou-se o primeiro tricampeão olímpico da modalidade, na categoria até 60 kg.

A expectativa na Natação era imensa. O ainda adolescente americano Michael Phelps (19 anos) chegou a Atenas dizendo aos jornalistas que bateria o recorde do compatriota Mark Spitz (sete medalhas). Mas, talvez, a “ansiedade de sua fala” o tenha atrapalhado. Phelps realmente teve uma atuação espetacular, conquistando seis medalhas de ouro e subindo no pódio em todas as provas. À saída dos Jogos, porém, experimentou um misto de orgulho e decepção, por ter levado “apenas” as seis medalhas e não ter cumprido a promessa pública.

Em Atenas-2004, alguns países conquistaram a primeira medalha olímpica: Emirados Árabes Unidos (ouro no Tiro), Paraguai (prata no Futebol), Eritréia (bronze no Atletismo), Israel (ouro na Vela), Chile (ouro no Tênis), República Dominicana (ouro no Atletismo) e Taipé (ouro no Taekwondo).

BRASIL

Em julho de 2001, o então presidente Fernando Henrique Cardoso sancionou a “Lei Piva”, estabelecendo que 2% do total bruto arrecadado com as loterias fossem repassados aos Comitês Olímpico (85%) e Paraolímpico (15%) brasileiros. A medida fez com que de repente os cofres da entidade (COB) ficassem naturalmente cheios. Mas, isso não quis dizer o início de uma política esportiva no país. Aliás, o que o COB planejou passou a milhas de distância da massificação do esporte no Brasil – o que a entidade presidida por Carlos Nuzman queria eram medalhas. E poder, cada vez mais poder.

O chamado esporte de alto rendimento recebeu bastante dinheiro, mas de maneira desequilibrada. O vôlei, por exemplo, que já tinha um patrocínio de empresa estatal, também foi agraciado com mais recursos públicos, enquanto outros esportes amargavam falta de infraestrutura e de apoio aos atletas – como o Taekwondo.

E na primeira Olimpíada em que contou com essa injeção biking-while-black de dinheiro público, o Brasil terminou em 16º lugar na classificação geral, com cinco medalhas de ouro (Seleção Masculina de Vôlei, Torben Grael/Marcelo Ferreira (Classe Star) e Robert Scheidt (Laser) na Vela, Emanuel e Ricardo no Vôlei de Praia e Rodrigo Pessoa no Hipismo – esta só confirmada após o doping do cavalo campeão).

“Apesar do recorde, o aproveitamento brasileiro foi o pior desde a entrada de Carlos Arthur Nuzman no Comitê Olímpico Brasileiro, em 1995. Em Atenas, 41 dos 247 brasileiros ganharam medalhas, ou 16,5% da delegação; em Atlanta-1996, o índice havia sido de 28%, com 63 atletas; e, em Sydney-2000, de 22,9%, com 47”.

O Brasil criou grande expectativa em relação a alguns atletas e esportes coletivos. O Vôlei Feminino, por exemplo, era uma das equipes mais fortes no âmbito mundial e parecia pronto para conquistar a medalha de ouro. Parecia. Na semifinal, as meninas to comandadas pelo técnico José Roberto Guimarães simplesmente travaram. Vencendo o jogo por 2×1, tinham 24 a 19 no 4º set. Precisavam, portanto, de apenas um ponto para fechar jogo, set e estarem na final. Mas, as russas se mostraram mais concentradas e determinadas. Viraram o placar, fecharam o set e empataram o jogo: 2×2. No tie-break, as brasileiras foram incapazes de esconder o profundo abatimento e acabaram derrotadas: 3×2.

Após a derrota, ao ser entrevistada por uma emissora de TV brasileira, a levantadora Fernanda Venturini disse que havia ido a Atenas para disputar o ouro, não o bronze. E, com esse estado de espírito, a Seleção Brasileira foi derrotada (mais uma vez) pelas eternas rivais (Cuba) e perdeu a medalha de bronze.

Na final, as chinesas começaram perdendo para as russas (2×0), mas com determinação e muita paciência viraram o jogo e venceram por 3×2, levando a medalha de ouro.

Na Ginástica Artística, Daiane dos Santos era a sensação brasileira e grande esperança de medalhas em Atenas. Daiane ostentava inclusive o título de campeã mundial do solo. Mas, errou na final e nem subiu ao pódio.

O Atletismo também viveu algo semelhante. Jadel Gregório tinha enormes chances de conquistar uma medalha no Salto Triplo – tradição brasileira, pelo menos desde Adhemar Ferreira da Silva. Mas acabou em 5º lugar. E, no Revezamento 4x100m rasos, integrou a equipe que ficou em oitavo.

Mas a grande imagem brasileira nos Jogos de Atenas-2004 foi, sem dúvida, a protagonizada por Vanderlei Cordeiro de Lima, na Maratona. O atleta paranaense liderava a prova com folga, quando, no km 36, foi atacado e empurrado para fora da pista por um ex-padre irlandês, que havia conseguido ludibriar o esquema de segurança. Impactado diante do inusitado, Lima só conseguiu retornar à prova graças à intervenção de um espectador grego, Polyvios Kossivas. Mas perdeu ritmo, tempo e acabou ultrapassado por dois adversários.

Ao entrar no Estádio Panathinaikos, Vanderlei Cordeiro de Lima foi aplaudido de pé. Chegou em 3º lugar e garantiu a medalha de bronze, sabendo que poderia ter sido de ouro, não fosse o incidente. De qualquer modo, o brasileiro, que antes de se tornar atleta era “bóia-fria”, acabou recebendo a medalha “Pierre de Coubertin”, outorgada apenas a heróis olímpicos.

Quando: 13/08/2004 a 29/08/2004

Países participantes: 201

Total de atletas: 10.625 (masculino: 6.296, feminino: 4.329)

Total de modalidades: 35

Total de medalhas distribuídas: 931

Participação do Brasil: 16º lugar

MEDALHAS BRASILEIRAS

Modalidade: Hipismo

Prova: Saltos

Atleta: Rodrigo Pessoa

Resultado: Medalha de ouro

Modalidade: Vela

Prova: Laser masculino

Atleta: Robert Scheidt

Resultado: Medalha de ouro

Modalidade: Vela

Prova: Star

Atletas: Marcelo Ferreira, Torben Grael

Resultado: Medalha de ouro

Modalidade: Vôlei de praia

Prova: Masculino

Atletas: Emanuel, Ricardo

Resultado: Medalha de ouro

Modalidade: Voleibol

Prova: Masculina

Atletas: André Heller, Anderson de Oliveira Rodrigues (Anderson), André Luiz da Silva Nascimento (André), Dante Guimarães Santos do Amaral (Dante), Gilberto Amaral de Godoy Filho (Giba), Giovane Gávio (Giovane), Gustavo Endres (Gustavo), Maurício Camargo Lima (Maurício), Nalbert Tavares Bitencourt (Nalbert), Rodrigo Santana (Rodrigão), Ricardo Bermudez Garcia (Ricardinho), Sérgio Dutra dos Santos (Escadinha)

Resultado: Medalha de ouro

Modalidade: Futebol

Prova: Londres Feminino

Atletas: Aline Pellegrino, Andréia dos Santos, Andréia Suntaque, Cristiane Rozeira de Souza Silva, Daniela Alves Lima, Delma Gonçalves (Pretinha), Elaine Estrela Moura (Baiana), Grazielle Nascimento Pinheiro, Juliana Ribeiro Cabral, Kelly Cristina Pereira da Silva, Marlisa Wahlbrinq (Maravilha), Marta Vieira da Silva, Miraildes Maciel Mota (Formiga), Mônica Angélica de Paula, Renata Aparecida da Costa, Rosana dos Santos Augusto, Roseli de Belo, Tânia Maria Pereira Ribeiro (Tânia Maranhão).

Resultado: Medalha de prata

Modalidade: Vôlei de prata

Prova: Feminino

Atletas: Adriana Behar, Shelda

Resultado: Medalha de prata

Modalidade: Atletismo

Prova: Maratona masculina

Atleta: Vanderlei Cordeiro

Resultado: Medalha de bronze

Modalidade: Judô

Prova: Leve masculino

Atleta: Leandro Guilheiro

Resultado: Medalha de bronze

Modalidade: Judô

Prova: Meio-médio masculino

Atleta: Flavio Canto

Resultado: Medalha de bronze

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