Você sabia:

Que o vôlei feminino só conquistou sua primeira medalha olímpica em 1996, nos Jogos de Atlanta? As responsáveis por este feito foram Fernanda Venturini, Ana Moser, Márcia Fu, Hilma, Ana Flávia, Ida, Ana Paula, Virna, Leila, Fofão, Filó e Sandra. Base da equipe titular da seleção, as atletas trouxeram o bronze para o Brasil após um emocionante jogo contra a seleção russa.

O documentário do diretor Fábio Moreira, “Pátria”, conta a história dessa formidável equipe de vôlei, que conquistou o primeiro pódio olímpico da modalidadee colocou o Brasil na elite do esporte.

“É campeão no nosso coração”. Essa foi a saudação da torcida brasileira para o time vencedor da medalha de bronze na Olimpíada de Atlanta 1996. Fernanda Venturini, Ana Moser, Márcia Fu, Hilma, Ana Flávia, Ida, Ana Paula, Virna, Leila, Fofão, Filó e Sandra perderam a semi-final para Cuba, mas conseguiram conquistar a vitória em cima da Rússia na disputa pelo terceiro lugar. Era a primeira vez que o voleibol feminino brasileiro subia ao pódio olímpico.

Da esq. para a dir.: Rune Tavares, produtor executivo, Luiza Goulart, roteirista, e Fábio Meira, diretor de “Pátria”

“Essa é a história que queremos contar. A de um time que não ganha o posto máximo mas tem uma força tão grande que o brasileiro consegue se reconhecer nelas e ver a vitória que elas tiveram”, conta, empolgado, o diretor Fábio Meira, da Acere Produções.

Depois de 6 meses, o documentário nasceu. Como foi  pra vc esse processo todo, desde a pesquisa até a finalização?

Foi um prazer concretizar um projeto antigo, esse é um filme que planejo há anos. O mais interessante foi encontrar um foco para que o filme coubesse em 26 minutos, resolvemos focar no momento mais emblemático dessa seleção, a semifinal contra Cuba nas Olimpíadas de Atlanta. Com isso, contamos algo que pouca gente conhece: a origem da rivalidade entre Brasil e Cuba no voleibol. Isso trouxe uma abordagem mais emocional ao filme, e coerência, já que essa equipe, com seu forte espírito de luta e superação, suscitou fortes emoções ao nosso país.

Na entrevista abaixo, ele e Rune Taveres, produtor executivo, explicam um pouco mais como será o filme “Pátria”, um dos documentários finalistas do projeto Memória do Esporte Olímpico Brasileiro. As gravações já começaram e o média metragem deverá estar pronto até junho deste ano.

Como vocês escolheram falar sobre essas 12 brasileiras?

Fábio Meira: Eu não sei exatamente quando eu comecei a acompanhar essa seleção. Acho que foi com aquela história da recuperação do joelho da Ana Moser. Eu lia isso nos jornais e me impressionava. Eu vi uma entrevista em que ela dizia que não aguentava mais responder se ia ou não jogar. Isso me impressionou. Como alguém consegue uma recuperação que deveria durar 6 meses em apenas 3 meses? Imagine toda a pressão que isso envolve! Eu comecei a admirá-la desde ali. E fui acompanhando os jogos de Atlanta, até que chegamos na semifinal, contra Cuba. Esse jogo passou às 23h, eu tinha 16 anos. O Brasil tinha ganhado de Cuba por 3 a 0 na fase preliminar e eu achei que, como estávamos na frente, poderia ir dormir que o resto já estava garantido. Mas daí Cuba ganhou o segundo set e eu fiquei acordado o resto da noite. O Brasil perdeu, foi super trágico. Aquele jogo mexeu muito comigo, me marcou muito. Tanto que eu continuei a seguir a carreira desse time durante anos. O filme existe por conta do fascínio que eu tenho por esse time. Não acho que nenhuma outra equipe de vôlei feminina teve tão próxima do público. Nós sabíamos o nome delas. Acho que a maioria não conhece da mesma maneira o time que ganhou ouro.

Quando você foi a Cuba estudar cinema?

Fábio Meira: Eu fui 9 anos depois. Fiquei meio com o pé atrás com Cuba.

Rune Tavares: Eu fui 4 anos depois e ainda peguei bem forte essa rivalidade. Em Cuba se joga muito vôlei e essa disputa Brasil-Cuba acontecia ali entre os estudantes mesmo. O jogo de Atlanta era sempre lembrado. Ali eu fui começar a ter uma ideia melhor do que representava tudo isso.

E no basquete também, não?

Rune Tavares: Eu não senti tanto isso no basquete. No dia a dia, morando lá, a rivalidade que saltou mais forte foi a do vôlei. Era esse jogo que vinha à tona. Os cubanos sempre tiravam a cartinha da manga para criticar.

Fábio Meira: As brasileiras foram melhor no basquete. A rivalidade era com Estados Unidos e Austrália.

Rune Tavares: Talvez essa seleção feminina de basquete fosse superior mesmo. E o processo que estamos contato aqui é o inverso: da seleção cubana historicamente superior e de quando o Brasil começa a virar esse jogo.

Fábio Meira: A Ana Paula [Rodrigues Connelly] falou em entrevista para nós: quando chegamos lá, as cubanas já eram as cubanas. Então as metas eram, por exemplo, ganhar um set delas. Depois dois. Ganhar um tiebreak. O trabalho das brasileiras foi tentar chegar lá. Isso é incrível porque elas conseguiram! Depois de dois anos elas já estavam ganhando campeonatos! Eu também estava em Cuba quando o Brasil perdeu para elas no Pan de 2007. Eu imagino que deva ser igual a um brasileiro estando em Buenos Aires num dia que o Brasil perde a Copa do Mundo de Futebol para a Argentina.

Rune Tavares: Tem um lance que eu acho muito bonito desse jogo de Atlanta que é aquele momento em que a Ana Moser pede respeito, com o dedo em riste. Eu acho que isso era muito claro também: por mais que tivesse brincadeira e gozação, foi a ocasião que Cuba reconheceu a seleção brasileira como sua igual no cenário mundial.

Fábio Meira: A Ana Paula disse que sabe localizar o momento em que as cubanas começaram a levá-las a sério: foi em 1994, quando ganharam o primeiro campeonato delas, um Grand Prix.

E quais outros momentos são importantes para contar essa história?

Fábio Meira: Com certeza o campeonato mundial feminino de 1994, aqui no Brasil. O público lotou tanto o Mineirinho, em Belo Horizonte, quanto o ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, e nós chegamos pela primeira vez na final de um campeonato mundial. A final, claro, foi contra Cuba.

E em Cuba, com quem vocês pretendem falar?

Fábio Meira: Com o técnico da seleção, com a Mireya Luis e com a Regla Torres, que está agora na comissão técnica da seleção feminina. A Mireya até pouco tempo estava no COI (Comitê Olímpico Internacional). Elas continuam muito ligadas à Federação de Vôlei.

Qual será a linguagem utilizada?

Rune Tavares: Não queremos só contar o jogo, mas a partir dele contar antes e depois. Queremos sempre voltar a esse jogo narrativamente, e sairmos dele para contar algo anterior. Ele será a alavanca.

Fábio Meira: Queremos demonstrar com o filme é que não se mede a força de um atleta, de um time, com uma medalha de ouro. Elas ganharam o bronze mas o efeito que elas tiveram na sociedade foi muito maior do que isso. Foi algo que transbordou ginásios e a televisão. As pessoas conseguiram sentir a força que elas tinham como time ali dentro.

Tanto que na volta elas foram ovacionadas.

Fábio Meira: Claro. Márcia Fu desfilou em carro de bombeiro em Juiz de Fora, outras em Belo Horizonte e São Paulo. O tratamento que elas receberam foi o mesmo do pódio, quando ouviram da torcida “é campeão no nosso coração”. Isso ocorreu no Brasil também. Essa é a história que queremos contar. A de um time que não ganha o posto máximo mas tem uma força tão grande que o brasileiro consegue se reconhecer nelas e ver a vitória que elas tiveram. O que para o esporte brasileiro é totalmente atípico.

Ana Moser discute com cubanas na semi-final da Olimpíada de Atlanta (1996)

O projeto Pátria tem o objetivo de contar a história da equipe que introduziu o Brasil na elite do voleibol mundial, com a medalha de bronze na Olimpíada de Atlanta de 1996 por Fernanda Venturini, Ana Moser, Márcia Fu, Hilma, Ana Flávia, Ida, Ana Paula, Virna, Leila, Fofão, Filó e Sandra. Era a primeira vez que o voleibol feminino brasileiro subia ao pódio olímpico.

Até então, o vôlei feminino não contava com tantos investimentos, e a partir do exemplo desse grupo vitorioso mudou-se a percepção, dando maior importância à modalidade. Quem não se lembra da fatídica semi-final outra Cuba? Talvez seja essa a principal recordação dos brasileiros em relação a essa equipe: valorizar aspectos negativos que não definem nem resumem essas grandes jogadoras.

Pátria contara com imagens de arquivo e entrevistas com atletas e comissão técnica, além de ouvir jogadoras de gerações anteriores, como Jaqueline e Isabel. O filme percorrera o caminho da conquista da medalha, visitando locais emblemáticos como o Mineirinho, o Maracanazinho, e o ginásio do Ibirapuera, onde chegaram pela primeira vez a uma final de um campeonato mundial, embalada por 25 mil torcedores.

O filme também ira em busca de Mireya Luís, antagonista dessa saga e notória algoz do Brasil, tricampeã olímpica, e do técnico da seleção cubana, Eugênio Jorge.

Fabio Meira, de “Pátria”

Ficha técnica:

Dcoumentário: “Pátria”

Produtora: Acere Produções Artística e Cultural

Diretor e roteirista: Fábio Meira

Localidade: São Paulo (SP)