Você sabia:

Que o tênis de mesa se tornou esporte olímpico nos Jogos de 1988, em Seul? Desde então, o Brasil nunca conquistou uma medalha, mas revelou ídolos como Claudio Kano e Hugo Hoyama. Claudio conquistou 12 medalhas em Pan-Americanos, sendo sete de ouro, e participou de duas Olimpíadas (Seul, 1988, e Barcelona, 1992). O mesa-tenista teve sua carreira interrompida em um trágico acidente um dia antes de embarcar para o Canadá, onde faria sua última etapa de preparação para as Olimpíadas de Atlanta.

O documentário: “Brilho Imenso, a História de Claudio Kano” homenageia este grande atleta, que além de referência do tênis de mesa brasileiro, reunia características de um verdadeiro ídolo. O filme produzido pela Paranoid Brasil e dirigido por Denis Kamioka reúne animações estilo mangá japonês e depoimentos emocionantes para contar a história deste grande brasileiro. “Ele queria vencer pelo Brasil, isso é a coisa mais admirável que existe pra mim. Você defender seu país, ser um soldado do Brasil”, declarou seu amigo, o ex-jogador de basquete Oscar Schmidt, no documentário.

Denis Kamioka segura a raquete nervoso. Vai lançar uma bola para um de seus ídolos, Ubiraci Rodrigues da Costa, o Biriba. “Quando eu era criança tinha uma raquete que chamava ‘Biriba’, mas na época eu não sabia quem era. Achava que era alguma marca, não um dos maiores jogadores de tênis de mesa da história do Brasil”, revelaria mais tarde.

Denis Kamioka, diretor do Documentário Claudio Kano, o atleta do detalhe.

Estamos em um dos muitos estúdios da Vila Leopoldina, em São Paulo, acompanhando a gravação do documentário “Claudio Kano, o atleta do detalhe”, um dos finalistas do edital Memória do Esporte Olímpico Brasileiro. Depois de alguns minutos, Denis, o diretor do filme, desiste de bater bola com Biriba. Acha que a responsabilidade é muito grande. Convoca então o pai de Claudio Kano, Minoru, para a tarefa.

Minoru e sua esposa Mitiko chegaram cedo para as filmagens naquele sábado. Estão claramente emocionados ao ver a história do filho, falecido em 1996, passar para as telas. “É importante deixar para os mesa-tenistas do futuro. Meu filho foi um exemplo, por isso é feito um documentário. É bom para os atletas que vem vindo”, diz Minoru, sob os ouvidos atentos e olhos comovidos de Mitiko.

Sr. Minoru e Sra. Mitiko, pais de Claudio Kano acompanham a gravação do documentário sobre o filho

O cenário é simples: uma mesa para jogar, algumas raquetes, muitas bolinhas e uma iluminação forte. O segredo está na imagem. A equipe da Dreamonoid Brasil utiliza uma supercâmera que grava 2 mil frames por segundo, dando um detalhamento impressionante à cena. Assim, cada saque, cada cortada, cada expressão do jogador podem ser vistos em uma velocidade muito lenta e rica em detalhes. “Você pode ver uma bexiga explodindo no ar”, comenta Denis.

Além de Biriba e dos pais de Kano, outros atletas e amigos também são convocados para as gravações. Entre eles, Gustavo Tsuboi, atualmente o primeiro no ranking brasileiro de tênis de mesa. Tsuboi, de 26 anos, participou da Olimpíada de Pequim (2008) e agora prepara-se para ir aos jogos de Londres. “Eu não conheci o Claudio Kano. Ele faleceu na véspera da Olimpíada de Atlanta, em 1996, e eu comecei a jogar em 1997. Então não tive a oportunidade de conhecê-lo. Só vi vídeos e relatos das pessoas que conviveram e jogaram com ele. Mas eu sei que ele teve um papel muito importante para o tênis de mesa brasileiro porque na época não tinha tanto apoio como hoje. Ele desenvolveu um papel de abrir portas para o Brasil no exterior. Ele participou de treinamentos no Japão e na Europa, e o pessoal lá viu que o brasileiro tinha talento e era esforçado. Isso abriu vários caminhos para as gerações seguintes. Devemos isso a ele”, diz Tsuboi.

Gustavo Tsuboi, considerado o melhor mesa tenista brasileiro da atualidade

Para o jovem atleta, participar de um filme sobre Kano “é o mínimo” que ele poderia fazer. “É uma contribuição, ele fez tanto pelo tênis de mesa. Até hoje as pessoas ainda falam muito e lembram muito dele, pelo seu jeito carismático de brincar, de não diferenciar ninguém. É um ídolo para todos nós, é uma honra para mim participar do documentário e ajudar o tênis de mesa a evoluir cada vez mais”.

Esse é o terceiro dia das filmagens. “Vamos filmar 15 diárias e entrevistar 26 pessoas. Se cada uma falar um minuto, já deu o documentário”, brinca Denis. “Exageramos um pouco. Mas a ideia era homenagear, nem que fosse por 30 segundos, pessoas relevantes para o tênis de mesa no Brasil e para a história do Claudio Kano”.

Bastidores da gravação do documentário sobre o mesa-tenista Claudio Kano

“O que vai ser editado ou não, ainda não temos ideia, mas até agora já ocorreram muitos momentos bonitos”, comenta. “Alguns nem foram na frente das câmeras. Um dos personagens é um grande amigo do Kano. Colocamos nele um microfone de lapela para fazer a entrevista e ele pediu para ir ao banheiro. A gente não estava mais gravando, mas o técnico de áudio estava ouvindo tudo. Ele foi ao banheiro, sozinho, e falou: ‘Porra, Claudio, você vai me fazer falar de você mesmo, né’. E aí ele voltou e deu um relato super emocionado”, lembra Denis. E completa: “Ou seja, dá para ver que a gente escolheu a pessoa certa para fazer o documentário. É um cara muito amado, que não é só um talento como atleta, mas que era especial como pessoa. Todo mundo fala bem dele. Era um cara muito humilde e carismático. Conforme estamos fazendo o documentário, vamos descobrindo que ele é o grande herói do tênis de mesa no Brasil”.

“Apesar de não ter ganho medalha ou ter aparecido na mídia tanto quanto outros esportes, o que eu acho que é uma grande contribuição do Kano é ser sexto em um mundial em uma categoria que não tinha nenhuma tradição no Brasil. E nenhum brasileiro bateu essa marca. Ele foi um divisor de águas. Quando a equipe brasileira chegava em uma competição, ia bater bola com os japoneses, com os chineses, com atletas top, porque ele era conhecido. Antes dele e depois, o normal era o Brasil bater bola com Trinidad e Tobago, com o Chile. Ele foi o embaixador do tênis de mesa do Brasil”, argumenta Denis.

Sobre o filme, ele detalha que vai usar a animação como recurso para os “momentos-chave” da história de Kano. “Já começamos a animação. Ela vai ser mais uma reconstituição das imagens que não existem nos arquivos. E mesmo as que existem são muito ruins. Na época as câmeras profissionais eram VHS, então é difícil apreciar. Muitas vezes não conseguimos nem enxergar a bolinha porque ela vai a 130 km/h e nas câmeras antigas não é possível ver”.

Na avaliação do diretor, o projeto pode ajudar a chamar atenção para o tênis de mesa, contribuindo inclusive para aumentar o registro de imagens desse esporte. “O Brasil não tem um tênis de mesa top. Tudo é muito amparado pela família, não tem patrocínio e nem mídia. Consequentemente, poucos conseguem se dedicar com exclusividade. E daí não temos atletas competitivos. É um círculo vicioso”, analisa.

Denis Kamioka, diretor de “Cláudio Kano, o atleta do  detalhe”, vibra ao falar sobre o mesa-tenista: “homenageá-lo homenagear todo o  esporte. Ele foi um ícone, tem uma história incrível de vida. É um atleta que o  Brasil ainda precisa conhecer”. Kano participou de duas Olimpíadas, Seul (1988)  e Barcelona (1992) e morreu num trágico acidente de moto pouco antes de embarcar  para Atlanta (1996).

Ficha Tecnica:

Documentário: Brilho Imenso, a história de Claudio Kano

Diretor: Denis Kamioka

Localidade: São Paulo (SP)

Claudio Kano

Cláudio Kano não chegou a ser um medalhista olímpico.  Mas sua carreira, desconhecida para a maioria dos brasileiros, reúne elementos  muito especiais, que revelam o perfil não só de um grande atleta, mas de um  verdadeiro ídolo. Estudioso e detalhista, Kano começou a praticar o tênis de  mesa com apenas 9 anos de idade. Dono de um estilo único de jogo, foi cinco  vezes campeão brasileiro, quatro vezes campeão sul-americano, seisvezes campeão  latino-americano e ganhou 12 medalhas Pan-americanas.

Cláudio participou de duas Olimpíadas, Seul e Barcelona,  e encerraria sua carreira em Atlanta. Sua meta era figurar entre os 8 maiores da  competição. Ele havia passado 3 meses no Japão, treinando intensamente, e  emagrecera 9 quilos, atingindo o auge de sua forma física. No entanto, um dia  antes de embarcar, Kano sofreu um acidente de moto e acabou falecendo. A  carreira de um dos maiores mesa-tenistas do Brasil acabava  ali.

Contar esta história é uma maneira não só de homenagear  a memória de Cláudio Kano, mas também de realizar registro inédito sobre a  modalidade em nosso país. Embora seja um esporte extremamente plástico e  interessante imageticamente, nunca foi feito um documentário nacional  aprofundado sobre o tema.

O filme também pretende divulgar, incentivar e estimular  o desenvolvimento futuro deste esporte, o mais popular do mundo – são 40 milhões  de praticantes. Aqui, o famoso ping-pong faz parte da vida de muitos brasileiros  como brincadeira dinâmica, mas o esporte levado a sério, com estatuto de  competição olímpica, ainda tem muito a crescer.