Uma história contada em família
Rio de Janeiro, 13 de março de 2013 – O renomado cineasta Cacá Diegues está por trás de mais uma história retratada nos documentários do Memória do Esporte Olímpico Brasileiro. O curta “No meio do caminho tinha um obstáculo” contará a trajetória olímpica do conjunto formado por Rodrigo Pessoa e sua montaria Baloubet du Roue, das inesquecíveis refugadas na final de Sydney (2000), ao ouro conquistado em Athenas quatro anos depois. Para contar esta história Cacá conta com a ajuda de sua esposa Renata de Almeida e de sua filha Flora Diegues. Os diretores receberam a reportagem na sua produtora, a Luz Mágica Produções, e revelaram detalhes do filme como o emocionante depoimento de Rodrigo Pessoa ao falar de Baloubet no episódio das refugadas. Mas a produção, segundo os diretores, terá um tom bem-humorado, definido pelo apoio de elementos gráficos e entrevistas exclusivas, como a realizada com o proprietário de Baloubet, o milionário português Don Diogo Pereira Coutinho e com o empresário brasileiro Antônio de Almeida Braga. Conheça mais sobre este documentário e sobre esta história na entrevista abaixo:
Cacá e Renata, vocês já tinham em mente esta história do hipismo antes de ficarem sabendo do Edital?
Renata de Almeida
Eu gosto muito de esporte e a gente já estava com alguns projetos em mente. Na verdade eu só soube do primeiro ano do edital quando eu descobri o segundo. A partir do conhecimento do edital rolou a ideia do Baloubet.
Cacá Diegues
O Baloubet era uma coisa que a gente comentava. Quando apareceu o edital a gente pensou logo na história dele como uma história que a gente queria contar.
E por que vocês querem contar esta história? Qual a importância dela?
Renata de Almeida
Eu acho que esta história do Baloubet, quer dizer, quando você fala de memória olímpica de milhares que tem uma é essa. Você teve todo mundo acordando cedo pra ver aquele cavalo, mas tem uma coisa que é muito interessante, que é a coisa de que pode ter um obstáculo no caminho de todo mundo e o Baloubet acaba sendo uma metáfora interessante. As vezes você passa obstáculo e as vezes você tem que parar mesmo e é bacana esse reflexão. Juntamente com a coisa do esporte, que tem sua particularidade: é um esporte individual, mas que tem um bicho.
Cacá Diegues
É o inesperado do esporte, todo esporte tem um inesperado muito grande. E esse aí foi um, que foi lá em Sydney, que tinha o Ronaldinho no time brasileiro, tinha o Guga e todo mundo era favorito, no final, que é sempre no último dia a disputa do hipismo, tinha o Baloubet que também era. Então tinha esse pensamento não ganhamos as outras, mas com o Baloubet vamos ganhar.
E como vocês estão pensando em contar esta história, que é de um esporte pouco conhecido, para o público?
Cacá Diegues
O esporte não é muito conhecido, mas é um esporte muito visual, tem um efeito e uma qualidade visual, que poucos esportes tem.
Renata de Almeida
E ao mesmo tempo que é pouco conhecido todo mundo já deu uma volta de cavalo. Então tem uma coisa ali, que ele é muito longe mas ao mesmo tempo a gente tem alguma curiosidade. A gente tem umas entrevistas já, por exemplo, de gente que acompanha hipismo porque tem medo de cavalo. Mas o filme é contado basicamente em três partes. A expectativa, o começo da prova – em que a gente faz uma brincadeira e trás a história do cavalo, do Rodrigo e regras – e tem a terceira parte em que o filme não acaba na derrota. O filme não acaba no refugo do Baloubet ele acaba na medalha de ouro do Rodrigo Pessoa cinco anos depois junto com o Baloubet, que é uma coisa muito louca que é o final feliz, mas de uma maneira torta. A primeira coisa que, ao chegarmos em Cintra (Portugal), que o Don Diogo Pereira Coutinho, dono de Baloubet disse foi ‘Baloubet deu ao Brasil o que o Brasil nunca teve’. (risos)
Como esta sendo trabalhar este filme em família?
Cacá Diegues
Acho formidável, acho muito bom. Estamos trabalhando em seis mãos, eu Renata e a nossa filha Flora. E está tudo indo muito bem, a Flora não viajou conosco eu e a Renata que viajamos pra fazer o Baloubet e o Rodrigo Pessoa enquanto que a Flora ficou aqui segurando a retaguarda.
Renata de Almeida
A gente vai usar interferência gráfica e na realidade a Flora está mais neste Back Stage, que é a interferência gráfica e que vai ser muito importante. O filme tem estas quebradas cômicas para não ficar muito duro.
Vocês vão trabalhar de uma forma bem-humorada um tema um pouco sisudo. É isto?
Cacá Diegues
Nós vamos tratar com um certo humor, não é uma piada, não é uma comédia, mas ele nasce com um certo humor. Com uma certa leveza
Renata de Almeida
O esporte é solene, é esporte de gente rica e a gente faz algumas fugas nos depoimentos. A gente tem um veterinário aqui da hípica genial, porque só falta ele dizer que quem monta um cavalo é assassino e ponto, que cavalo é um bicho que nasceu para ficar livre, no mato.
E como foi chegar nos personagens do documentário?
Cacá Diegues
A gente entrou em contato e marcou o encontro. O Don Diogo foi em Lisboa, onde o Baloubet mora, hoje ele é reprodutor não corre mais. E depois já fomos à Bruxelas conversar com o Rodrigo Pessoa, cujo aras é lá. A entrevista foi muito boa, conversamos a tarde toda, mas o que mais interessou é ele contando como o Baloubet refugou e o que se passou naquela manha lá em Sydney. Eu quase chorei de emoção porque ele narrava como se o Baloubet fosse um ser humano igual a ele. É como se fosse um conjunto humano, ele e o Baloubet. Ele tratava o Baloubet como se fosse, sei lá, uma pessoa só e foi muito emocionante a declaração dele, eu acho que a gente deveria deixar ela intacta.
Renata de Almeida
Ah. Tem uma entrevista, a outra eu deixo secreta. A gente conseguiu entrevistar o Antônio de Almeida Braga, que talvez seja a pessoa civil mais importante do esporte do Brasil – patrocinando diversos atletas em ínicio de carreira -, enfim, uma pessoa que adoro esporte e sempre apoiou esporte brasileiro.
Surgiu algo que não entraria no filme? Alguma surpresa para o público?
Renata de Almeida
Ah… Ai eu não posso falar, porque dai é surpresa né Fredi (risos). Um dos momentos do filme pergunta o que você estava fazendo quando o Baloubet refugou e dai tem um depoimento maravilho que esta no filme e que começa com toda esta brincadeira. Porque ninguém consegue falar direito o nome do Baloubet. Então tem alguns depoimentos, de algumas pessoas que não tem nada com o esporte, mas que trazem coisas riquíssimas em torno desse mote ‘onde você estava quando Baloubet refugou’, mas eu não posso falar (risos).
Ficha técnica:
Documentário: “No Meio do Caminho Tinha um Obstáculo”
Produtora: Luz Mágica Produções Audiovisuais Ltda.
Diretores: Cacá Diegues, Renata de Almeida e Flora Diegues
Sinopse: A tortuosa jornada de um cavaleiro e seu cavalo na última Olimpíada do 2º milênio. O ano em que o hipismo virou paixão nacional. Do favoritismo do conjunto tri-campeão mundial Rodrigo Pessoa e Baloubet du Rouet até as refugadas do cavalo e a decepção de milhões de brasileiros. Uma história sobre perseverança e união entre um homem e seu animal em busca do ouro Olímpico.