Você sabia:

Que há quase 50 anos, Aida Santos, marcou história no atletismo nacional? Sem nenhum apoio, treinador, tênis e até uniforme próprio, a carioca de 75 anos de idade entrou para a história conquistando o quarto lugar no salto em altura nos Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964. Mesmo sem nenhuma estrutura, Aida teve o melhor desempenho de uma brasileira na história dos Jogos até as Olimpíadas de Atlanta em 1996, quando as atletas Jacqueline e Sandra conquistaram a medalha de ouro no vôlei de praia.

André Pupo é diretor do Doc , Aída dos Santos, uma mulher de garra.

Depois de 6 meses, o documentário nasceu. Como foi pra vc esse processo todo, desde a pesquisa até a finalização?

Foi realmente um privilégio poder contar parte da história dessa personagem maravilhosa que é Aida dos Santos, uma atleta que representa tão bem os heróis olímpicos brasileiros: Aqueles que muitas vezes tiveram seus talentos desperdiçados por falta de visão da política de esportes no Brasil. Enfrentando preconceitos, solitude e desamparo, Aida conseguiu um feito inédito, o quarto lugar em Salto em Altura na Olimpíada de Tóquio em 1964.

Isolada do resto da delegação brasileira, Aida improvisava na comunicação para treinar sozinha na Vila Olímpica feminina. Sem opção, Aída se entregou ao hábito de se transportar de bicicleta para os treinos, fato que a fez superar marcas históricas de impulsão, causando um resultado inesperado que a ajudou no dia da prova. Sem nenhum apóio técnico, a negra, filha de lavadeira do Morro do Arroz em Niterói teve uma garra realmente impressionante.

Pelo fato do Japão ser um país tão mítico quanto longínquo, Aída nunca havia voltado ao lugar que a consolidou no hall da fama do esporte brasileiro. Nossa equipe resolveu mudar essa história e a levamos de volta à Tóquio. A idéia era voltar com a protagonista 48 anos depois para o local onde ela se hospedou, andou de bicicleta e viveu o seu maior feito no esporte. Aída voltaria a pisar no “Estádio Nacional de Tóquio”.
A “Professora” ,como é conhecida Aida pelos amigos, é uma senhora de 75 anos, avó de dois netos e jogadora de voleibol master. O fato de Aída ainda estar na ativa, tornou a nossa viagem muito mais rica, fazendo com que o compromisso e a disposição de Aída se tornasse um exemplo para toda equipe.

Sabíamos que voltar ao local da prova seria a forma perfeita de trazer à tona a memória da protagonista revivendo a emoção dos fatos e trazendo uma forma original de contar uma história repetida a exaustão pela personagem durante todos esses anos. Dito e feito: O encontro com o estádio foi verdadeiramente emocionante e especial. Só resta a nós a expectativa de termos tido a competência para transmitir essa emoção.

Para falar do início no esporte e a história que precede a Olimpíada de 1964, gravamos depoimentos com a personagem no Botafogo e na pista de atletismo Célio de Barros, lugar onde ela treinou durante toda sua carreira. Além disso, encontramos também com Francisco antigo morador das proximidades da pista que, quando criança, ajudava Aida nos treinos, e que ainda se diz seu fã numero um. 48 anos depois, Francisco faz questão de dizer que continua inconformado com a falta de incentivo que a atleta teve na época.

Para conseguirmos documentos como estes, além do planejamento, contamos também com o acaso que qualquer documentário necessita para ser feito. Neste aspecto, acreditamos que fomos muito bem sucedidos.
Agradecemos a oportunidade e esperamos que todos gostem e se orgulhem dessa brasileira que é um exemplo para todos nós.

Gravação do documentário sobre Aída dos Santos

Pq Aída dos Santos? Fale sobre o processo de criação

Nossa busca teve foco em uma figura que tinha tudo para ser medalhista e não foi. A nossa surpresa, ao encontrarmos o nome de Aída dos Santos em nossa pesquisa, foi descobrir que a atleta possuía as características contrárias à que pensávamos estar buscando. Aída tinha tudo para não ir às olimpíadas e contou somente com sua própria garra para garantir o quarto lugar. Quando entramos em contato com sua história, descobrimos que ela era realmente a pessoa certa para explorarmos.

Conte sobre as entrevistas. Quem vc já entrevistou? O que mais te chamou a atenção?

Nossa guia é Aída e ela se posiciona como tal. Entrevistamos Aida no complexo de atletismo Célio de Barros e na sala de troféus do Botafogo. É difícil que uma mulher de 75 anos seja espontânea ao contar sua estória repetida a exaustão, esperamos muito dos depoimentos de Aida durante a sua viagem para Tóquio onde estaremos ancorado no lugar onde tudo aconteceu, trazendo as lembranças a tona.

Gravação do documentário sobre Aída dos Santos

Quais são suas expectativas? Como vc quer que fique o DOC?

Através de uma narrativa direta da própia personagem queremos passar a solidão no dia a dia de Aida nas Olimpíadas. Mostrar a importância de Aida para o esporte olímpico nacional como uma atleta que alcançou uma colocação digna apenas com a sua determinação e nenhum apoio da Confederação de Desportos, na época o órgão que coordenava os esportes amadores, para que nunca se cometa mais um descaso como esse e que outros talentos sejam desperdiçados.

O que as pessoas vão encontrar quando assistirem Aída dos Santos, uma mulher de garra?

Esperamos que o espectador sinta-se na pele de Aída em toda sua trajetória para chegar em Tóquio. Estamos focando na mistura do drama com o documentário justamente para buscar essa identificação, ao mesmo tempo em que pretendemos ilustrar a surpresa e a emoção da saltadora ao voltar para o palco que a consagrou como referência mundial do Atletismo.

Aida dos Santos

O projeto “Aida, uma história de garra” pretende resgatar a memória da saltadora em altura Aida dos Santos e reviver sua trajetória na primeira Olimpíada que disputou. O documentário reconstitui a história escrita há mais de 40 anos, nos jogos de Tóquio 1964, quando ela obteve o quarto lugar na prova de salto em altura.

Única mulher na delegação brasileira daquele ano, Aida competiu sem treinador, patrocinador, tênis ou uniforme próprios. Havia conquistado a vaga em Tóquio às vésperas da competição, quando alcançou o índice olímpico ao praticar o esporte por diversão. Também a única sul-americana lá, Aida cravou um lugar na história simplesmente por estar numa competição daquelas: era uma brasileira, negra, sem estrutura de treinamento, com o país no início da ditadura militar, contra nações muito mais desenvolvidas inclusive em termos esportivos!

Sem a ajuda de ninguém, ela mal conseguiu preencher a ficha de inscrição, toda em inglês. Seu nome não constava na relação de atletas brasileiros e ela não pode retirar o material para competir. Nas eliminatórias, obteve a classificação às custas de uma torção no pé – estava acostumada a cair na areia, não na espuma. Movida apenas de garras e com uma sapatilha emprestada de um corredor cubano para a grande final, Aida voltou ao Brasil como heroína e representa o melhor do espírito olímpico.

André Pupo apresenta projeto

Ficha técnica:

Documentário: “Aida dos Santos, uma história de garra”

Produtora: Digimídia Recursos Digitais Ltda.

Diretor: André Pupo

Localidade: São Paulo (SP)

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado. Required fields are marked *

*