Por Fredi Cardozo,

Atrás de um grande atleta, tem sempre um grande treinador

São Paulo, 09 de março de 2013 – Uma das memórias de infância do cineasta Ricardo Dias vai se tornar um dos documentários do Memória do Esporte Olímpico, ano II. A história do nadador, medalhista olímpico e recordista mundial Manoel dos Santos, será contada no curta “55s4′ – A Virada”. O diretor da Ramalho Filmes contou à reportagem, que ao se deparar com o edital em 2011, lhe veio à recordação da vez em que assistiu pelo cinema aos Jogos olímpicos de Roma (1960), e que a memória da final dos cem metros livres da natação foi a primeira na hora de pensar no roteiro. No filme, o próprio Manoel dos Santos irá relatar sua carreira, que ficou marcada pelo amadorismo, pelas grandes conquistas e pela dedicação do técnico, Minoro Hirano. Para Ricardo, o olhar e a capacidade profissional do Sr. Hirano foram determinantes para o sucesso que Manoel teve nas piscinas e esta relação atleta e técnico poderá ser observada no filme. Depois de vários trabalhos em conjunto este será o primeiro de Ricardo a ser produzido pelo amigo e cineasta, Francisco Ramalho Jr.

Você é conhecido pelos documentários que produziu, mas o que te atraiu para este edital?

Na verdade um realizador como eu fica atrás de oportunidade de trabalho, eu sou na maior parte do tempo freelance. Eu já trabalhei muito com televisão, mas a maior parte da minha carreira profissional foi como um realizador independente, então uma possibilidade de trabalho que sempre acontece são os editais. Então você procura um projeto que possa se encaixar dentro dos editais. Quando eu vi isso no ano retrasado, esse meu projeto entrou no primeiro Memória do Esporte Olímpico, me veio à lembrança do Manoel dos Santos como uma história pra ser contada.

E porque a história do Manoel?

Eu era criança quando o Manoel ganhou a medalha dele, ele ficou em terceiro lugar na prova dele, nos cem metros livres e lembrei que aquilo teve uma repercussão muito grande. Foi importante. Eu vi o filme oficial dos Jogos olímpicos de 1960, que foi a primeira vez que eu vi uma Olimpíada na minha vida, me lembro claramente de ter visto uma prova que um brasileiro surpreendentemente quase ganhou a prova. Então foi assim que tive a ideia. Pesquisei um pouco via internet e descobri que o Manoel estava aqui em São Paulo, na sua academia de natação. Entrei em contato com ele e apresentei a ideia do Projeto e ele gostou.

Manoel dos Santos e Leonardo Alcover

Você já conhecia bem a história do Manoel?

Não conhecia tão bem, mas eu sabia que era uma história que poderia interessar. Memória do Esporte Olímpico. Bom, essa é uma memória que eu tenho. Eu vivi na época em que ele foi um grande campeão. E, é o tipo da coisa que eu sabia, qualquer pessoa que eu for perguntar hoje em dia pelo nome Manoel dos Santos vão pensar que é o dono da padaria. Mas para a minha geração o Manoel dos Santos é um grande nadador brasileiro medalhista olímpico e recordista mundial dos cem metros livre.

Além do próprio Manoel dos Santos, o que mais temos de interessante nesta história?

O que é importante também é que é a prova mais nobre da natação. Os cem metros livres são como os cem metros rasos no atletismo. É a grande prova da natação e a gente teve um atleta brasileiro que foi recordista mundial nessa prova e isso não é pouca coisa. Principalmente levando-se em conta o fato, de que naquela época o esporte era profundamente amador. Não existia dinheiro, investimento, nada. E no Brasil não tinha apoio nenhum, o Manoel treinava em piscina com água fria e suja. Piscina de 25 metros, quando as provas eram em piscinas olímpicas de 50.

E como ela será contada no documentário?

Bom, quem conta a história é ele mesmo (Manoel). Eu, claro que conto a história, porque eu organizo o material, mas basicamente é uma história contada por ele mesmo. Eu fiz uma longa entrevista com ele em que ele fala sobre Roma, a prova, olimpíada, do treinamento, tudo. Ele conta a história dele no esporte e eu então organizei isto. A minha função como diretor foi colocar de uma forma clara para que o telespectador compreenda e aprenda essa história.

Equipe

E além do Manoel dos Santos você pretende conversar com mais algum atleta daquela época?

Não. Eu acho que o concurso é uma oportunidade boa porque ele permite que a gente, de certa maneira, trabalhe com bastante independência criativa e quanto ao formato. Então se eu estou, por exemplo, numa estação de televisão e proponho uma matéria sobre o Manoel dos Santos dificilmente algum chefe de reportagem vai aprovar que eu não fale com nenhum especialista, ou que eu não colha outras opiniões, porque esta é a maneira como o jornalismo trabalha. O concurso te da esta possibilidade de fazer um documentário em que você não tem essas restrições formais e de formato, permite que eu possa ousar nesse sentido de deixar a história ser contada por uma única pessoa, pelo seu personagem principal.

Você acha que esta história pode efetivamente servir como fonte de inspiração para os atletas de hoje?

Eu acredito que sim. Eu me colocando no lugar de um atleta jovem hoje, como por exemplo, o atleta que eu usei o Leonardo. Eu chamei um jovem nadador para representar a prova olímpica e o preparo do Manoel nadando. Pensando nele eu imagino que sim, vai ser uma revelação, uma coisa útil saber que já teve um caminho que começou a ser aberto gerações passadas. Você saber que existiu uma Maria Lemke, um Tetsue Okamoto medalhista em Helsinque (1952). E no caso do Manoel, ele tem muito a contar, ele tem uma experiência fantástica, principalmente na questão da preparação.

Atleta e ator Leonardo Alcover

O que você pode adiantar para nos desta produção?

Agora que estou editando estou vendo o quanto ele teve uma série de favorecimentos que fizeram com que ele, que normalmente seria perdido, como se perdem os talentos no Brasil, se torna um nadador. Primeiro do pai que o ajudou, ele teve a felicidade de nascer em uma família de classe média, que pode sustenta-lo enquanto ele treinava. E de ter encontrado um treinador que nem era um treinador. O Minoro Irano não era treinador de natação, mas era um grande talento como treinador, que percebeu que aquele jovem nadador poderia ser um grande campeão. Ele era um grande treinador de Judô que conhecia natação porque tinha nadado no Japão e tinha sido tradutor de um grupo de nadadores, os Peixes Voadores, grupo japonês que veio ao Brasil. Ele ficou amigo do pessoal e passou a fazer contato. Naquela época não tinha piscina de água quente em São Paulo, então para treinar no inverno ele foi para Santos. O Manoel ficou morando na casa do Hirano, comendo comida japonesa, convivendo com uma família japonesa, para poder treinar lá com uma água um pouco menos fria. É uma história de superação braba.

Houve alguma surpresa durante a parte da pesquisa, ou mesmo das entrevistas?

As surpresas são as surpresas que geralmente acontecem nesse tipo de trabalho. Por exemplo, ter encontrado o Leonardo Alcover, que é um nadador jovem do Esporte Clube Pinheiros. Ele foi indicado pelo próprio pessoal do clube como um nadador que tinha o tipo físico semelhante com o do Manoel. E foi ótimo, realmente ele foi excelente, ficou muito legal toda a parte do atleta nadando hoje, mas ele está de certa maneira representando o Manoel de 50 anos atrás. A outra, que eu já suspeitava foi descobrir a história do Hirano e do Manoel, que era uma história riquíssima e muito interessante. Principalmente na parte do treinamento, na preparação dele para ganhar a medalha olímpica e o quanto que o Hirano foi decisivo. Fundamental. Absolutamente a razão do sucesso dele é este técnico, que entendeu e soube reconhecer o talento do Manoel e soube fazer aquele talento dar certo e render.

Com o Projeto indo ate 2016, você se vê participando com uma nova ideia de documentário? Gostaria muito. Eu gostei muito de ter participado, acho uma oportunidade muito boa. Então acho ótimo. Gostaria de fazer outros, mas não tenho nenhuma ideia que seja legal agora, mas seguramente vem. Em algum momento aparece uma ideia, essa do Manoel foi assim quando eu vi o Edital eu me lembrei dele, não houve nenhuma outra ideia antes.

Diretor Ricardo Dias

 

Ficha técnica:

Produtora: Ramalho Filmes

Documentário: “55s4′ – A VIRADA”

Diretor: Ricardo Dias

Doc sobre: MANOEL DOS SANTOS

Sinopse: Foi em Roma, Itália, agosto daquele ano de 1960 em pleno verão,  no mesmo ano  em que poucos meses antes se inaugurava Brasília, como nova capital do Brasil  no momento em que este país saltava para um futuro marco na história e afirmação do Brasil contemporâneo. A Olimpíada se chamou “Jogos Olímpicos de Verão de 1960″, ou oficialmente ” Jogos da XVII Olimpíada”, cinquenta e dois anos após Roma ter desistido da organização dos Jogos Olímpicos por causa de uma erupção do vulcão Vesúvio. Os romanos  fizeram nessa Olimpíada a união da antiga tradição  dos gregos com sua própria história. As competições de levantamento de peso  foram na Basílica de Maxentius, a  ginástica nas Termas de Caracalla e a chegada da maratona foi no Arco de Constantino. monumento construídos em homenagem ao primeiro imperador romano cristão.  E o Brasil iniciava sua época desenvolvimentista  que iria coroar um Brasil moderno como uma das maiores potências da atualidade. Também era o começo do atletismo se destacar no Brasil: Maria Esther Bueno, a número UM no tênis, o Adhemar Ferreira da Silva, que foi atleta bi olímpico na década anterior em salto triplo e que infelizmente não pode participar da olimpíada de 1.960, o Nelson Pessoa em equitação….

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