Resgate da memória pessoal, acervos em vídeo e direito do uso de imagem. Esses foram alguns dos temas debatidos na tarde de hoje no I Encontro Esporte, Memória e Cultura, realizado na Cinemateca Brasileira, em São Paulo (SP).
“No Museu da Pessoa ouvimos pessoas não como informantes ou uma fonte, mas para participar da sua narrativa. Depois da virada do milênio, a consciência do valor da história das pessoas, do cidadão comum, aumentou. E isso contribuiu para o museu. Nós gravamos histórias em áudio e em vídeo e esse material tem, depois, pode ser trabalhado como um produto em livro, documentário, vídeo, site”, afirmou José Santos Matos, fundador do Museu da Pessoa e um dos convidados da mesa.
Ele compartilhou histórias como a da cearense que foi mãe ainda na adolescência, veio para São Paulo trabalhar como manicure e acabou fazendo um curso de roteiro de cinema. Com uma ideia fixa na cabeça, ela até procurou o cineasta espanhol Pedro Almodóvar para apresentar o filme. Matos contou sobre um senhor que morreu com 125 anos e acreditava ser a pessoa mais velha do Brasil. Ele se lembrava de como, na infância, divertia-se tentando soltar escravos do tronco.
Matos disponibilizou à Bossa Nova Films, que fará o documentário “O salto de Adhemar”, uma gravação de Adhemar Ferreira da Silva que faz parte do acervo do Museu da Pessoa. “Chegamos perguntando quem eram seus avôs, os pais, como foi a sua infância e ele se abriu”, lembrou.
A jornalista Denise Elias, diretora do CEDOC da ESPN Brasil, contou à plateia, formada por produtores e diretores dos documentários finalistas do edital Memória do Esporte Olímpico Brasil, como entrou na área do esporte. “Eu dirigia o Sport Center, um dos principais jornais da ESPN, e fiquei indignada com o acervo da emissora diante da confusão e da necessidade de arrumar aquilo. Comecei a organizá-lo pelas necessidades dos meus colegas jornalistas Mudei a equipe, trouxe historiadores, jornalistas, bibliotecários. Temos 80 mil fitas no acervo, que está sendo digitalizado.”
Denise apresentou uma pesquisa prévia sobre os temas dos documentários e afirmou às produtoras que a ESPN tem bastante material para disponibilizar. “Precisamos ver se é adequado a cada um”, completou.
Ana Luiza David, advogada da ESPN, trouxe casos sobre os direitos tutelados e como funciona o processo de uso de imagens de acervo da emissora. “A ESPN pode ceder para a inserção nos documentários, mas com algumas restrições”, comentou. “Quando, por exemplo, adquirimos imagens das Olimpíadas, Copa do Mundo etc., em todos esses contratos, muito bem amarrados pelos grandes organizadores, pode-se usar a gravação durante o evento e por um curto espaço depois, cerca de 90 dias. Depois não está mais liberado”, afirmou.
Já Myrna Malanconi, responsável pelo Setor de Pesquisa de Imagem da Cinemateca Brasileira, apresentou o acervo disponível na casa. “O arquivo está armazenado em 4 câmaras climatizadas. Temos 44 mil títulos em rolos de filme, 28 mil títulos em vídeo e 220 mil fotos e mais materiais de áudio, documentos, livros, folhetos etc. Tudo isso está acessível ao público em geral”. A Cinemateca conta com o acervo da Atlântida, da Vera Cruz, do Canal 100, os programas jornalísticos da TV Tupi e o os cinejornais brasileiros nas décadas de 1940 e 1950, entre outros.