Você sabia:

Que o responsável pela única medalha olímpica do Brasil no boxe se chama Servílio de Oliveira? O ex-boxeador conquistou o bronze nos Jogos Olímpicos do México em 1968.

O documentário da diretora Renata Sette Aguilar, “A Luta continua – Um documentário em 12 Rouds”, procura desvendar o homem por trás da medalha e mostrar toda a sua emocionante saga para disputar os Jogos Olímpicos do México.

Renata Sette, diretora do DOC sobre o pugilista Servílio de Oliveira, respondeu algumas questões sobre o processo de produção do documentário : A Luta continua- Um Documentário em 12 rounds”

Depois de 6 meses, o documentário nasceu. Como foi pra vc esse processo todo, desde a pesquisa até a finalização?

Intenso; é a palavra que melhor define o processo.

6 meses é um período que, se você não trabalha o máximo por antecipação, tentando prever as surpresas, pode se tornar um tempo muito curto. E mesmo trabalhando dessa forma, tentando imaginar os contratempos, eles nos surpreendem. É fato; não tem jeito. Chega a ser engraçado, depois que passa.

Como todo filme foi preciso lidar com desafios, horários, pessoas das quais dependíamos, respostas que tivemos a tempo ou não. Tudo isso causa ansiedade mas, ao mesmo tempo, coloca você diante de questões que caso não se adapte pode ser pior, sem dúvida. É preciso muita paciência, jogo de cintura. E isso, no final, sempre conta a favor. O balanço é totalmente positivo. Principalmente se conquistamos um resultado bacana, satisfatório. E foi o que aconteceu. Temos um filme do qual nos orgulhamos muito.

Foi intenso mas foi, sem dúvida, sensacional! As surpresas, inclusive.

VALEU!

Porque escolheu fazer um documentário sobre o Servílio e sobre boxe?

Quando começamos a pesquisar a atuação do Brasil nas Olimpíadas e descobrimos que o país só tem uma medalha olímpica no boxe ficamos, primeiro, perplexos. Depois, curiosos. Como é que o Servílio de Oliveira havia conseguido algo que Eder Jofre, Miguel de Oliveira, Popó, Sertão, etc., nunca conseguiram? O que fez dele o único? Aí fomos atrás dessa história. Conhecemos o Servílio, fizemos entrevistas, descobrimos o arquivo enorme que ele tinha de recortes de jornal, fotos… Descobrimos ali o nosso tema. Ao mesmo tempo que é uma história do esporte olímpico, é uma história cheia de interesse humano, obstinação, tragédia, superação.

Outra coisa que nos fez escolher o tema é simplesmente a admiração que temos pelo boxe como esporte em si. A plasticidade, a beleza da luta, das imagens. O boxe já foi tema de grandes filmes, agora queremos fazer um documentário à altura.

Renata Sette, diretora do DOC A Luta Continua.

Qual é o desafio de fazer um DOC com um personagem vivo?

Acho que o maior desafio é fazer alguém confiar em você a ponto de entregar na sua mão a história da sua vida. A minha história é, em primeiro lugar, minha. Minha para contar, exibir, guardar, mostrar para os outros. Como é que eu entrego isso para alguém e depois consigo dormir a noite? Chegar para alguém que você não conhece e pedir isso é muito difícil, acho que em qualquer documentário.

Ao mesmo tempo, é preciso conciliar esse voto de confiança do “documentado” com o respeito ao público, a necessidade de mostrar as coisas como realmente são.

Fora isso, no caso de uma pessoa conhecida, como o Servílio que já foi entrevistado dezenas de vezes, é necessário encontrar fatos novos, informações desconhecidas, acrescentar à história para não ficar repetitivo. Encontrar o homem por trás da medalha e do discurso tão dito em tantas entrevistas- talvez esse seja o maior desafio.

Servílio na gravação do Documentário “ A Luta Continua- Um Documentário em 12 rounds”

O nosso processo para a realização do Doc era, a partir do argumento/roteiro inicial, fazer uma pesquisa filmada, escolher os entrevistados a partir dela (não era possível ficar com todos que entrevistamos em função do tempo do Doc; 26’) e definir quais deles fariam parte do filme. São inevitáveis as mudanças pelas quais um documentário passa nesse processo de pesquisa. Descobrimos novas pessoas e possibilidades ainda não pensadas; exemplo disso é o Rafael, um menino de 11 anos que treina boxe em Rio Claro e que passou a fazer parte do filme quando vimos as semelhanças entre a personalidade, idade, escolhas e história dele com a do Servílio. O Rafael e o universo dele e da escola onde treina em Rio Claro foram um rico acréscimo para o filme.

De outro lado outra mudança ocorreu em função do falecimento de um dos personagens: o Sr. Antônio Carollo, técnico de toda a vida do Servílio. Fizemos uma entrevista com ele dois dias antes do seu falecimento, foi uma surpresa. Para o DOC tínhamos pensado em surpreender o Servílio e levar o Carollo ao encontro dele numa sala de cinema, onde o atleta, com 11 anos de idade, viu uma primeira luta do Éder Jofre em 1960. Diante desse acontecimento tivemos que mudar os nossos planos e promover o encontro de outra forma.

Outros entrevistados tiveram sua presença aumentada pelo fato de terem acrescentado um bom conteúdo ao filme. Dessas forma outras entrevistas podem ficar de fora. Uma das características mais magníficas no formato documentário é a liberdade para deixar que algumas coisas mudem no processo. Isso é o máximo. Dar a abertura a tais mudanças é válido e pode acrescentar ao filme, mesmo porque elas são inevitáveis.

Dênis, pugilista mirim

Quem vc entrevistou? Como foram as entrevistas?

Entrevistamos: Servílio de Oliveira, Victória Chalot (sua esposa) e os irmãos: Silvério, Sinésio, Sônia, Silvana e Silvanete. O filho Gabriel de Oliveira.

Conversamos e convivemos muito com os profissionais de boxe que nos auxiliaram e foram nossos consultores na escolha de todos os atletas e profissionais que participaram do documentário: Xexeu Tripoli, do Palmeiras, e Breno Macedo, que trabalha no Palmeiras com o Xexeu. Ele é um estudioso do esporte, estudante de História na USP e nos finais de semana professor de Boxe na escola da sua família, em Rio Claro.

Entrevistamos Éder Jofre, Antônio Carollo e o pugilista mirim Rafael Bombonatti.

As entrevistas foram muito boas. Algumas, das quais nem esperávamos tanto, nos surpreenderam. As conversas com o Servílio foram boas descobertas; francas. Conseguimos ver por trás da sua preparação e oratória, sentimentos novos e fatos até então não muito explorados.

Servílio de Oliveira, único medalhista olímpico brasileiro no boxe

Em 1968, o Brasil recebeu sua única medalha olímpica na modalidade boxe. O autor da façanha foi Servílio de Oliveira, ganhador do bronze.

Alguns anos antes, em 1963, aos 13, influenciado pelos irmãos mais velhos, começou a freqüentar à academia Caracu Boxe Clube, na rua Aurora, próxima a praça da República, centro velho de São Paulo, capital.

Em 1965, com o fechamento da academia Caracu, se transferiu para a academia Flamingo, da rua Florêncio de Abreu, travessa da Avenida Senador Queiroz. Lá, em 1966, na rodada final do tradicional Campeonato de estreantes de “A Gazeta Esportiva”, no Ginásio do Pacaembu lotado, derrotou por pontos ao também jovem Mourival Rodrigues Maia, do Clube Esportivo da Penha.

Hoje, aos 63 anos, Servílio ainda é apaixonado pelo boxe, fazendo movimentos até mesmo enquanto fala. Esquivas, jabbings, provavelmente inconscientes, acompanham seu discurso. Ele nunca trabalhou em nenhuma outra profissão.

O documentário será dividido em 12 minicapítulos, como os 12 rounds de uma luta. Cada um terá vida própria, com começo, meio e fim. Contam uma história, um conflito, uma solução, uma vitória ou uma derrota. O boxe imita a vida e “A luta continua” imita o boxe.

Teaser do documentário “A luta continua”

Ficha técnica:

Documentário: “A luta continua – um documentário em 12 rounds”

Produtora: Debasé Filmes Ltda.

Diretora: Renata Sette Aguilar

Localidade: São Paulo (SP)

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