Por Fredi Cardozo,
Documentário: “3 Pontos: basquete, rap e o jejum”
O casamento perfeito
O cineasta Rafael Terpins está de volta ao Memória do Esporte Olímpico – participou em 2011 com o curta “O Salto de Adhemar”. Este ano a temática é o esporte que sempre praticou e que acompanha assiduamente, o basquete. A história do filme falará do jejum olímpico de 16 anos do basquete brasileiro (1996-2012) e da redenção alcançada na classificação para Londres, obtida em Mar del Plata (2011). O diretor da produtora Fantástica Fábrica de Filmes, vai adicionar ao novo trabalho o Rap, gênero musical que embala a modalidade desde seu tempo de jogador. Rafael recebeu a reportagem em seu apartamento, em São Paulo, e falou empolgado sobre esta produção que para ele é muito pessoal. O curta “3 Pontos: o basquete, o rap e o jejum”, promete muitas novidades ao casar em sua narrativa o esporte e a música. Descubra mais na entrevista abaixo:
Este é o seu segundo ano no Edital. O que te levou a concorrer novamente? Você já tinha um tema na cabeça?
Eu adorei participar no ano passado. Foi incrível poder entrar no mundo do atletismo, que é algo que eu não tinha familiaridade e eu sempre correlacionava com o esporte que eu fiz na vida. Em ter contato com atleta eu lembrei da minha adolescência inteira que eu joguei basquete. Quando saíram os filmes do Memória, tinha o filme do Denis Kamioka, “Um Brilho Imenso”, sobre o Claudio Kano. Esse filme me chamou muito a atenção por ser um olhar de dentro. Pois o Denis foi um atleta que teve contato direto com o esporte, competiu dentro do tênis de mesa, conhecia as pessoas e tinha um envolvimento maior com o tema. O que eu achei muito legal, de ter uma visão pessoal, uma sensibilidade diferente. Os outros filmes que eu vi e incluo “O salto de Adhemar”, os cineastas entram em um universo diferente da própria realidade, apenas levando uma visão de fora. E pensei, faltou um filme de basquete, não teve basquete masculino nessa primeira leva de trabalhos – o que já foi o segundo esporte do Brasil. Eu adoro, não perco um jogo da seleção que tenha. Eu assisto universitário americano, eu adoro, sou vidrado em basquete. E eu falei que queria trabalhar este tema e a ideia surgiu no final de 2011, quando teve um jogo na Argentina, em que o basquete masculino se classificou para Londres e foi um momento emocionante para mim. Algo que marcou a história do basquete brasileiro. Depois de três olimpíadas sem ir, de três pré-olímpicos de sofrimento. Eu assistia aquilo e falava não, de novo não! (risos). E aquele foi um momento de redenção que me tocou muito. Eu tenho que falar desse momento! Tinha que registrar isso em filme, então o cerne desse filme começou nesse jogo, no final de 2011.
Com toda esta ligação que você tem com o basquete, como está sendo produzir o filme?
Eu acho que este é um filme muito pessoal. Não adianta eu ir lá e mostrar só o jogo que o Brasil voltou pra olimpíada depois de três anos. Eu tenho que mostrar o contexto de tudo isso. Então é falar de como o basquete do Brasil já foi uma força no mundo. Outro fator dentro disso é da visão de dentro. Qual é a visão de dentro? O que diferencia fazer um filme de basquete, de alguém que nunca jogou basquete e fazer um filme sobre basquete. Eu disputei uma vez uma competição, que é como se fosse uma olimpíada judaica, e eu fui lá representar o Brasil. Em um jogo um dos meus companheiros de equipe se machucou, teve um rompimento de tendão no pé. Procuramos o médico da delegação, que estava no jogo de futebol. Pegamos uma carona no ônibus da equipe de futebol e eu estranhei muito, porque todo mundo ficava no fundo, com instrumentos tocando Pagode. E eu me lembro da sensação da época, de falar, poxa que estranho, porque não está todo mundo sentado de fone ouvindo Rap? E alí eu percebi como cada esporte tem sua cultura e eu estava inserido na cultura do basquete, que tem essa relação com música negra, com o Rap principalmente. Na época que eu jogava, no final da década de 1990, começo dos anos 2000, era muito forte esta ligação. Então veio a ideia de fazer um documentário em que a música, nesse caso o Rap, e o basquete conversavam.
E você vai fazer esta ligação do Rap com o basquete de que forma?
O meu maior medo era de não conseguir fazer essa ligação. Mas a nossa primeira filmagem no Brasil foi com os rappers e sempre tem questões de produção, vai trocando o elenco, um não podia, chama outro e acabou o Lews Barbosa – um dos rappers -, ele entrou três dias antes da gente gravar pra fazer a letra, fazer uma base pra gente conseguir gravar o clipe com ele. E, depois dessa gravação me deu um alivio enorme de saber que a coisa funcionou mesmo. Foi uma ideia maluca. Eu vi a liberdade de fazer isso depois da primeira edição do Edital e vi que as ideias inovadoras eram muito bem aceitas ali dentro. Algo jornalístico, mas inovador no formato de documentário. Então eu aproveitei a chance do segundo ano pra vir com uma coisa diferente mesmo e estou muito confiante, que funcionou.
Você gosta de usar animação nas suas produções. Veremos algo do tipo no que vem por ai?
Sim. Na verdade depois de ir trabalhando o material é que a gente começa enxergar um pouco mais o filme e estou num ponto em que enxerguei bem o papel da animação no filme. Dentro da própria cultura Hip Hop que permeia o filme, percebi que a animação poderia entrar como um grafite. Então a gente até gravou vários muros em São Paulo e no Rio pra aplicar o que seria uma projeção dos Jogos Olímpicos, então, ao invés de usar essas imagens reais dos jogos e até algumas que não tem registro em cinema – como os Jogos de basquete de 1948 -, de ter isso projetado num muro como se fosse um grafite. Então, esta vai ser a utilização principal de animação nesse filme.
Você vai trazer alguma novidade para esta produção? Existe algo de novo em relação ao trabalho do ano passado?
O formato desse filme é completamente diferente do que produzimos ano passado. O formato do documentário, que eu acredito das coisas que eu vejo, só o Surplus trabalha com música. É um documentário musical com três rappers narrando cada etapa, é uma narração em Rap do documentário e, algo que eu nunca vi ser feito.
E sobre as entrevistas. Ocorreu tudo bem, todos gostaram?
Foi uma ótima aceitação de todos. Ficaram felizes em colaborar com um filme sobre a história do basquete. Acredito que é um momento muito especial de retomada do esporte em si.
Como está caminhando a produção e como você esta sentindo o encaminhamento dele? O que o público pode esperar?
Eu não sei (risos). É algo diferente, que estou muito animado de conseguir realizar. Pois a popularidade do basquete caiu nos últimos anos, o Rap também não está lá no topo das paradas. Mas é obvio que os dois sempre me agradaram, independente do período eu acho que é uma combinação estética maravilhosa, e eu estou muito feliz com o material que eu tenho na mão já. O Oswaldinho Santana, o editor do filme, foi a primeira pessoa que eu pensei pra chamar, porque sei que o cara é muito capaz e sei que é o perfil dele montar este filme. Então não estou muito preocupado. A trilha está bem encaminhada, até porque a gente produziu a trilha antes, pra fazer estes clipes com os rappers. Os rappers mesmo acabaram ajudando na pesquisa, trazendo alguns dados e alguns jogos que não estavam no plano original e acabou entrando, por causa da letra da música. Então está sendo um processo muito interessante e muito prazeroso encontrar meus ídolos de infância. Ir ao centro de treinamento do San Antonio Spurs, do Cleveland Cavaliers. Poder bater papo com o Rubén Magnano e poder tirar dúvidas e esclarecer a história de outros pontos de vista.
Ficha técinica:
Documentario: “3 Pontos: basquete, rap e o jejum”
Diretor: Rafael Terpins
Produtora: Fantástica Fábrica de Filmes
Sinopse: A história do basquetebol olímpico brasileiro rimada em 3 atos musicais por craques da música. Wlamir, Oscar e Varejão em ritmo de rap.