Por Fredi Cardozo,

A história de uma dupla muito alegre

 

São Paulo, 19 de Março de 2013 – A sintonia da dupla Terezinha Guilhermina e Guilherme Santana rendeu dois ouros para o atletismo do Brasil na última edição dos Jogos Paraolímpicos. A história desta união será retratada no documentário “A Valsa do Pódio”, de Daniel Hanai e Bruno Carneiro. Os diretores conversaram com a reportagem em um café de São Paulo e revelaram a alegria que está sendo produzir o curta, que segundo eles não é a história de uma atleta com deficiência, mas sim a história de uma parceria de sucesso feita por pessoas alegres e que sentem prazer no que fazem. Os movimentos coordenados e ritmados fazem parte da corrida para cegos, assim como em uma dança, mas não é desta maneira que surge o nome do filme. A inspiração veio da cerimônia de premiação dos 100 metros em que Guilherme leva Terezinha ao lugar mais alto do pódio como se estivessem dançando uma valsa. Este será o primeiro filme do Memória do Esporte com temática no esporte paraolímpico. Confira mais detalhes sobre esta produção na entrevista abaixo:

Como vocês chegaram até o edital e como surgiu a ideia de falar sobre a Terezinha?

Daniel Hanai

Eu vi o edital pela primeira vez no ano de 2011 fiquei muito curioso, mas não pensei em nenhum projeto, só acompanhei para ver quem estava sendo selecionado, acompanhei toda a primeira fase até vi alguns documentários. Depois do segundo ano eu procurei o Bruno e disse vamos participar deste edital vai ser legal e tenho algumas ideias, vamos atrás. Aí ele topou e eu fui atrás de alguns nomes, foi assim que a gente começou esse caminho aí.

Bruno, qual foi o teu papel depois do chamado do Daniel?

O Daniel me chamou para fazer a direção do projeto e no final das contas a gente acabou co-dirigindo, porque ele escreveu o roteiro, ele tinha o projeto na cabeça, ele tinha toda uma concepção já inicial que era muito boa. Era usar esta situação da dança da Terezinha Guilhermina e do Guilherme Santana numa das premiações lá de Londres. Então ele já tinha toda a concepção do projeto e a gente co-dirigiu. E fique em um pouquinho mais com a parte de câmera, pouco mais na parte técnica mais eu e Daniel ficamos na parte criativa do tempo todo fazendo tudo juntos.

Qual será a abordagem de vocês para contar esta história?

Daniel Hanai

Pelo fato de ser paraolímpica, pelo fato de ela ser cega e pela história de vida dela dava para se levar para um documentário bem dramalhão, bem sofrido. Mas desde o princípio, quando a gente se inscreveu, nós dissemos: ‘não vamos fazer um documentário de autoajuda, não vai ter caramelo derretendo na tela’. Nada disso. Vamos fazer uma coisa pra cima e por sorte dos dois, tanto a Terezinha quanto o Guilherme são super pra cima. Não fazer da deficiência o cerne da questão, mas sim o fato de os dois trabalharem muito bem juntos. A parceria deles e como eles se viram com isso.

Bruno Carneiro

Na verdade se fossemos pensar que estávamos fazendo um documentário sobre uma deficiente física, a gente ia escorregar um pouquinho para essa parte um pouco mais melosa e a gente não queria isso. O projeto, desde que o Daniel criou, é sobre uma pessoa alegre, para cima, que treina pra caramba e que se diverte. Então a gente não tá criando um documentário sobre uma atleta deficiente visual, a gente está tratando de um documentário sobre uma atleta e um atleta.

Daniel Hanai

É claro que o fato de ela ser cega dificulta em algumas coisas, não seria a mesma coisa se fosse com uma pessoa que não é cega. Tem os cuidados, mas é o que o Bruno falou, este fato não é o nosso ponto no documentário. O nosso ponto é esta parceria e a alegria dos dois. Isto é só um detalhe no meio de toda a produção.

Bruno Carneiro

Resumindo bem é isso,  é um documentário sobre  uma parceria entre dois atletas. No esporte teoricamente individual, que é a corrida. Olha que interessante a gente está fazendo um documentário  sobre o uma corredora, que logo de cara a gente associa a um esporte individual e nesse caso têm um diferencial, que, acaba sendo um esporte de equipe, ela precisa do guia. E a simbiose entre os dois é a perfeita, tanto dentro da pista quanto fora e acaba sendo uma equipe e ao esporte individual.

Terezinha e Guilherme

Terezinha e Guilherme

Como eles receberam a notícia do documentário e como estão lidando com as gravações?

Daniel Hanai

Quando eu entrei em contato a Terezinha ela topou na hora. A princípio eu estava pensando num projeto sobre a Terezinha mesmo, mas aí conhecemos melhor a história, conhecemos o Guilherme e aí você vê a questão dos dois juntos. É uma história muito bacana. Na semana passada o Guilherme quase que não nos deixou ir embora, porque, na verdade a gente gravou em Maringá onde eles treinam e depois fomos para Betim, que é a cidade natal da Terezinha, então o Guilherme não precisou ir, mas quase foi junto (risos). Ele queria ir junto com a equipe.

Bruno Carneiro

É eles não ficaram nada deslumbrados eles são de uma simplicidade e cumplicidade total. Eles estão felizes com o que eles fazem, eles estão felizes  com o que é o documentário. É uma alegria generalizada. A gente acaba sendo uma só uma companhia (risos). A Terezinha dava a chave da casa dela pra gente e a gente ia pra casa dela e montava a luz e tudo mais, enquanto isso ela ia treinando na academia. Então foi uma relação excelente entre todo mundo.

Além dois personagens, quem mais será ouvido por vocês?

Bruno Carneiro

A gente gravou com a irmã que mora com ela e ajuda a muitos anos. Com alguns irmãos, que ela tem irmãos deficientes visuais também, então a gente gravou com estes irmãos e com o pai dela, que é um cara que ela tem uma relação muito legal e muito próxima.

Por que esta história é importante de ser contada?

Daniel Hanai

A gente vai contar a história de duas pessoas, que em tese uma delas é deficiente, mas a gente vai mostrar o outro lado de como isto é só uma ferramenta que eles não têm. Não é um problema, não é uma deficiência em si para ela, mas ao mesmo tempo, a gente foi descobrindo outras coisas no processo. Então tem alguns detalhes que vamos contar nessa história que eu acho bacana pro espectador ver. Você vê os dois fazendo este movimento da largada e isso, de uma maneira ou de outra, já mostra o trabalho em equipe. Por outro lado tem esses detalhes técnicos que as pessoas não conhecem e vão conhecer através do filme.

Bruno Carneiro

Este filme vai ajudar a divulgar a paraolimpíada, que a gente quase não assiste e é tão legal quanto. Na verdade são atletas superdedicados e alguns chegam a um nível de dedicação impressionante.

Daniel Hanai

O pódio é diferente, a gente não vai falar que ele é diferente, ele vai estar lá no filme. A largada você vai ver que é diferente. Esse filme vai ajudar a entender melhor a paraolimpíada.

Explica pra gente a questão do título do filme?

Daniel Hanai

Quando eu estava pesquisando alguns projetos algumas ideias vinham na mente e eu me deparei com a cerimônia de premiação dos 100 metros – onde foi o triplo pódio de brasileiros – e foi nesse pódio que a gente vê uma questão bacana. O guia do terceiro lugar faz uma coisa para levar a atleta para o pódio, o outro guia faz outra coisa para levar a segunda colocada pra receber a medalha e por fim o Guilherme e a Terezinha fazem esta dança. Na hora que você a maneira como eles estão se portando no pódio, nota-se que é diferente de uma olímpiada em que você tem aquele ritual sério. Nesse caso pareciam seis crianças brincando, na hora que se vê você pensa que tem alguma coisa de diferente e é diferente. Tão diferente que no final tem essa valsa, é uma dança que eles fazem até chegar no pódio e por isso que o nome é dado como “A Valsa do Pódio”.

Terezinha e Guilherme

Terezinha e Guilherme

Terezinha e Guilherme

Vocês já imaginam como o filme vai ficar?

Bruno Carneiro

Eu acho que todo filme que você faz você imagina e durante o processo esta sua imaginação vai virando outras coisas. Algumas coisas ficam parecidas e surgem montes de outras coisas que você nunca tinha pensado. Exatamente da interação já que nós dois estamos montando juntos. Vai ter um montador que vai vir com as suas próprias ideias, vai ter um editor de som que também vai trazer outras, um animador. Então essa equipe toda ainda vai trabalhar muito no formato final do filme. Então a gente imagina, mas não sabe se vai ser assim mesmo.

Daniel Hanai

Eu me lembro de uma reunião com o montador e com o técnico de som, antes de a gente filmar, em que eu revi o filme de outra maneira. Em vários detalhes eles vão dando ideias e a gente vai reconstruindo. Eu acho que tenho a ideia do projeto desde o principio, mas muita coisa foi mudando.

Como vai ser o uso da animação?

Bruno Carneiro

A animação vai ter um papel um pouco “viajante”, ela vai ser como a imaginação da Terezinha enquanto ela está correndo e se preparando pra prova é mais, na verdade, uma sensação do que uma imaginação. É um tipo de animação bem específica, mas de qualquer maneira são as sensações que ela tem de ouvir a plateia, de ter o Guilherme ao lado dela, de se prender a ele com o velcro e de correr. Então a gente vai tentar transformar sensações em imagens com a animação.

Diretores Daniel Hanai e Bruno Carneiro

Ficha ténica:

Documentário: “A Valsa do Pódio”

Produtora: Cinematográfica Superfilmes

Diretores: Daniel Hanai e Bruno Carneiro

Sinopse: Em 2012, nos Jogos Paralímpicos de Londres, a atleta brasileira Terezinha Guilhermina confirmou sua posição de corredora com deficiência visual mais rápida do mundo: conquistou, ao lado de seu guia Guilherme Santana, duas medalhas de ouro nas provas de 100m e 200m rasos para cegos (T11). Além disso, protagonizou uma cena emocionante: na prova dos 400m, Guilherme desequilibrou-se e caiu; em solidariedade ao guia, Terezinha jogou-se no chão e abandonou a vitória que era certa até então. O documentário vai contar a história dessa grande atleta: suas conquistas, sua relação com o guia, o sonho olímpico e a felicidade de ganhar a medalha, a superação de mais um recorde mundial, e principalmente, como ela se divertiu durantes estes jogos e como curte sua vida.

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