Por Fredi Cardozo,
O universo das mulheres olímpicas
São Paulo, 18 de março de 2013 – A primeira participação feminina nos Jogos Olímpicos aconteceu na sua segunda edição, em Paris (1900), mas foi só em 1932, que o Brasil teve pela primeira vez uma mulher nos Jogos, a nadadora Maria Lenk. Da primeira participação feminina, até a primeira medalha, se passaram 64 anos – Jaqueline e Sandra conquistaram o ouro em Atlanta (1996), no vôlei de praia. Entender o contexto das mulheres no esporte olímpico e refletir sobre sua participação na sociedade é o mote do documentário dirigido pela cineasta Laís Bodanzky, em “Mulheres olímpicas”. A diretora de “Bicho de Sete Cabeças” é a convidada desta edição do Memória do Esporte Olímpico para a produção do longa-metragem, que terá 52 minutos de duração. Laís recebeu a reportagem em sua produtora e contou sobre o convite para participar do projeto e sobre o tema que ela irá trabalhar. Confira a entrevista na íntegra abaixo:
Você foi a escolhida desta edição para dirigir o longa-metragem. Como se deu este convite?
O convite veio da Daniela e do Trajano para que eu escolhesse um tema dentro do macro tema, que é o memória do esporte, para que eu dirigisse um filme com liberdade artística com o tema que eu quisesse. Eu achei divertido o convite, porque a minha especialidade não é realmente o esporte e disse ‘vocês têm certeza que sou a pessoa ideal para isso, será que sou eu?’. Eles falaram que é justamente a intenção, sair do universo jornalístico dos especialistas e ir para um novo olhar, o olhar de um cineasta.
E quanto a escolha do tema?
Eu escolhi o tema que me interessa independente do mundo do esporte, reuni esses dois temas, o da memória olímpica com a participação da mulher na sociedade. É um tema que me interessa e que já venho pesquisando há algum tempo, mas sem saber exatamente o que tinha, como era o desdobramento disso no mundo do esporte e no mundo das olimpíadas também. Na verdade foi uma surpresa muito grande descobrir histórias incríveis, eu acho que na hora de escolher o tema foi quase no chute, mas agora acho que acertei de fato, porque estou muito contente com o que estou descobrindo.
E como está sendo trabalhar com o tema esportivo, que como você mesma disse não é sua especialidade?
Eu estou adorando. Na verdade estou contando história de pessoas, histórias do Brasil, estou contando uma maneira da gente se conhecer. Na verdade o mundo do esporte é encantador, ele é um mundo de fortes emoções e de pessoas muito valentes, então é um universo muito cativante mesmo para quem não é um especialista no assunto. Não tem como você não se interessar e não se emocionar com este tema.
Como você está trabalhando a produção do filme?
Eu vou trabalhar com muito material de arquivo e entrevistas com grandes desportistas, que participaram das olimpíadas e que ganharam medalhas. Mas a minha intenção é trazer um olhar crítico, não um olhar consciente, para entender que a sociedade não mudou assim tão fácil. Na verdade estas medalhas são resultado de muita briga e muita insistência de muitas mulheres. Elas são consequência de anos de história de tentativa da mulher entrar no mundo do esporte e sempre com muitas barreiras e preconceitos. Então quem eram estas mulheres, que além de vencer o esporte em si, tinham uma luta paralela que era ser aceita pela sociedade e ser aceita no mundo do esporte. Porque é um mundo fechado no mundo masculino e um mundo com preconceitos da sociedade, muitas vezes até da própria mulher. Então eu quero trazer esta consciência crítica para que aquele que for assistir o documentário. Não só comemorar os grandes avanços da mulher, mas perceber o suor que foi chegar até aqui.
Você vai aproveitar os personagens já relatados em documentários da primeira edição do edital?
Sim e outras também, mas todas as que aparecem nos documentários, tanto a turma do vôlei, quanto a Maria Lenk, que não está mais aqui mas vai ser muito citada também. A Aída com sua filha, a Valeskinha, que foi pro vôlei e ganhou uma medalha, que a mãe não ganhou. Vou revisitar esses personagens, mas elas têm seus próprios documentários e esse é um documentário que eu quero contar o todo da história para sentir quem são estas mulheres no coletivo.
Você tem alguma memória pessoal que será retratada em sua produção? Algum esporte te inspirou?
Tem vários fatos que lembro de assistir na adolescência ao vivo na TV, mas sem ter consciência. O próprio ouro da Jaqueline e da Sandra eu lembro da gente comemorar, mas eu não lembro de comemorar porque era o primeiro ouro de uma mulher brasileira. Eu estou revisitando a história e vendo de outro ponto de vista, isto que é interessante. Sempre gostei de jogar vôlei na escola, porque tinham meninas incríveis na quadra, que a gente vibrava, então eu me inspirava como uma adolescente qualquer. Eu não tinha consciência da batalha que elas estavam vivendo naquele momento, então eu estou de novo revisitando a história da minha própria memória, inocente na época, só de torcida, vibrando, mas sem saber os bastidores que estavam acontecendo.
Que tipo de mensagem você pretende passar com esta história e por que ela é importante?
Eu já percebo imediatamente pelas próprias atletas que venho entrevistando e até pessoas da área, jornalistas, a surpresa quando eu falo que a primeira mulher a participar de uma olimpíada – primeira mulher brasileira -, foi a Maria Lenk, em 1932. Mas que a nossa primeira medalha foi em 1996 com o vôlei de praia – primeira medalha e primeiro ouro -, então são 64 anos de tentativa e é tão recente na história que isto aconteceu. Por que? O que é que aconteceu? O que está por trás? Como explicar estes fatos? São fatos concretos, mas por que isto aconteceu? Então eu acho que o documentário deve deixar clara uma informação que ninguém percebe, que a nossa história está acontecendo agora e que ela é recente. Eu acho que acordar este grande público para uma informação significativa da nossa história através do esporte é também mostrar o espaço da mulher na sociedade. Eu acho que isto interessa a todo mundo. Então através da nossa memória, que é uma memória olímpica, mas é uma memória da nossa sociedade, entender quem somos nós hoje e o espaço que a mulher vem ocupando. Saber que nada cai do céu, que isto é fruto de muita discussão, de muita briga, de mulheres fortes que foram responsáveis por essas conquistas.
Você já participou de algo semelhante antes? Como você enxerga estas produções do Memória do Esporte Olímpico?
O que eu acho interessante, na hora que a gente fala da memória olímpica, você não impõem qual é a memória, você deixa a memória aparecer naturalmente então ela brota espontaneamente, é muito bonito isto. E ai vem as histórias mais diversas e interessantes e todas se entrelaçam, na hora você tem um tema central (memória olímpica), que é o guarda-chuva, abaixo dele todos os temas são aparentemente individuais, mas não são, eles compõem todo um mosaico. Eu acho que no final de todo o projeto você vai ter um mosaico muito colorido e rico sobre quem somos nós. O que é o Brasil no esporte olímpico. Não, nunca participei de um projeto assim fazendo uma parte deste mosaico e vendo qual a importância dele.
Ficha técnica:
Documentário: Mulheres olímpicas
Produtora: Buriti
Diretor: Laís Bodanzky
Duração: 52’
Sinopses: Este documentário tem a intenção de traçar este paralelo, a mulher na sociedade e a mulher no esporte olímpico. A história das esportistas brasileiras nas Olimpíadas pode-se dizer que é recente. Foi em 1932, em Los Angeles, que uma primeira mulher brasileira participou de uma Olimpíada, mas a primeira medalha só chegou em 1996 em Atlanta, 64 anos depois. Só agora em 2012, em Londres, que todos os países participantes tiveram representantes mulheres e pela primeira vez foi incluído o boxe feminino, fazendo com que pela primeira vez na história as mulheres participem de todos os esportes olímpicos.
Documentário maravilhoso, assisti a umas 2 horas atrás na ESPN! Trabalho bem elaborado, dirigido e produzido! Parabéns. Maa, eu gostaria de saber também, o nome da musica que toca durante o documentário! Musica essa, que me aparenta ser de violiono. Obrigado!