Você sabia:

Que a ex-nadadora Maria Lenk foi a primeira mulher sul-americana a competir em Olimpíadas? O feito aconteceu nos Jogos Olímpicos de Los Angeles em 1932. Para custear a viagem, a nadadora e os outros 68 atletas da equipe brasileira venderam café no porão do navio que os levaram até Los Angeles. Maria Lenk jamais conquistou uma medalha, porém foi a responsável pela introdução do nado borboleta nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936.

O documentário do diretor Iberê Carvalho, “Maria Lenk – A Essência do Espírito Olímpico”, compartilha com todos os brasileiros as histórias e recordações generosamente contadas pela nadadora.

Depois de 6 meses, o documentário nasceu. Como foi  pra vc esse processo todo, desde a pesquisa até a finalização?

Foi um processo muito rico em vários aspectos. Minha experiência maior era com filmes de ficção, por isso a responsabilidade de se fazer um filme sobre a Maria lenk me assustava um pouco. A etapa de pesquisa , logo de cara, já estabeleceu alguns desafios que teríamos pela frente. O primeiro deles foi constatar que a entrevista que realizamos com a nadadora em 2004 não trazia tantos trechos inéditos como imaginávamos; Isso me fez perceber que para ir além do que outros veículos já haviam ido na tentativa de conhecer quem realmente foi Maria Lenk, precisaríamos reconstruir sua história a partir de depoimentos de outras pessoas; o segundo ponto foi ver que a maioria das pessoas que poderiam contribuir com a reconstrução da memoria de vida de Maria,  possuem um enorme respeito e admiração por ela, mas não tinham um relacionamento íntimos com nossa personagem. O que me deixava receoso de realizar um filme frio e institucional. O caminho encontrado foi ir até os Estados Unidos para encontrar seus filhos, netos e bisnetos, e assim desvendar um lado íntimo de sua personalidade, que poucos conheceram; o terceiro ponto descoberto durante o processo de pesquisa e que veio a pautar todas as decisões futuras, foi que infelizmente não existem muitas imagens da época em que Maria competiu nas Olimpíadas. A fase de atleta de alto rendimento de nossa personagem não poderia ser  retratada com imagens. Isso nos levou a uma caminho que considero fundamental para a essência de nosso filme, que foi focar na paixão de Maria pela natação, que a fez nadar até seu último dia de vida.

Resumindo, todo o processo foi de grande aprendizado. Um aprendizado cinematográfico, mas sobretudo um aprendizado de vida. Entrevistamos diversas pessoas, atletas com mais de setenta anos, apaixonadas pelo esporte e com uma sabedoria de vida rara e comovente.

Para mim, foi uma honra e um processo transformador realizar o filme Maria Lenk – a Essência do Espírito Olímpico.

No vai-e-vem da metrópole, entre dois viadutos enormes, um rio morto, carros, ônibus, buzinas e poluição, está guardado um pedaço da história da natação brasileira.

Quem passar apressado certamente não vai notar, mas na praça Bento Camargo de Barros, hoje ocupada por catadores de papel e moradores de rua, fica um discreto portão vermelho que dá entrada a Associação Atlética São Paulo.

Primeiro clube que Maria Lenk treinou

Fundada em 1914, a AASP já foi um dos grandes clubes da capital paulista. Em um passado não muito distante, foi precursora do remo, disputado no então limpo rio Tietê, e campeã de basquete. A Associação também abriga a primeira piscina olímpica da América Latina, onde Maria Lenk começou a dar suas braçadas rumo às competições e Olimpíadas.

O cenário, hoje espremido entre uma churrascaria e um terreno baldio, é uma das locações do documentário “Maria Lenk – A essência do espírito olímpico”, um dos finalistas do edital Memória do Esporte Olímpico Brasileiro. Foi lá que, em um domingo pela manhã, encontramos o diretor Iberê Carvalho e sua equipe.

Pouco antes eles haviam filmado no Clube de Regatas do Tietê, do outro lado da rua, onde Lenk também nadou, e seguiam para o local onde antes era a casa da atleta, a duas quadras de distância. “Olha como era pertinho, ela ia treinar a pé”, diz Iberê, admirado.

“Quando a gente partiu para a pesquisa, estávamos com uma ideia de contar todas as façanhas da Maria Lenk. Ao estudar a vida dela, percebemos que ela foi pioneira em tudo que fez e queríamos mostrar isso. Mas isso também estava me angustiando. ‘Como eu vou contar essa história em 26 minutos?’, pensava. O caminho então foi remontar a biografia dela e procurar um olhar que saísse do convencional”, relata.

Piscina da Associação Atlética de São Paulo em que Maria Lenk treinava

Iberê compartilha um pouco do processo de criação do documentário: “Partimos de uma reconstrução da biografia, que é complexa de fazer porque se trata da memória das pessoas. Fizemos uma pré-pesquisa e a partir disso definimos quem seriam os personagens que nos ajudariam a contar a história da Maria Lenk. Trabalhamos em cima de um roteiro inicial, supondo que essas pessoas seriam as entrevistadas definitivas do filme. A partir disso, estabelecemos um guia. Só que desde que começamos a filmar eu nem peguei nele. Foram surgindo outras coisas, novos personagens. Cada dia eu tenho uma nova possibilidade de viés para seguir.”

Estamos em frente à fachada da casa de Maria Lenk. A rua, no bairro da Ponte Pequena, tem pouco movimento e muito lixo na calçada. Um caseiro da propriedade em frente nos conta que os donos derrubaram o sobrado por dentro para “evitar que invasores morassem lá”. “O rio passava aqui perto antes de desviarem o curso”, comenta, “vivo aqui desde criança”.

Sob Sol forte, Iberê diz que hoje, o que mais lhe encanta é “falar do tempo”. “Porque todas essas pessoas, principalmente as mais idosas, falam com saudade daquele tempo, mas também estão superativas com 80 ou 90 anos. Nenhum deles se aposentou, a maioria ainda nada. Queremos falar sobre como a nossa sociedade lidou com a passagem do tempo, como os atletas lidaram e, principalmente, a Maria Lenk. Ela nunca parou. Hoje entrevistamos o jornalista Henrique Nicolini e ele nos disse que o maior ensinamento da Maria Lenk é que o esporte não termina aos 25 anos. Ou seja, a parte olímpica da vida dela é fundamental para a sua personalidade pública, mas o que a diferencia não é o que ela fez em sua fase de atleta de alto rendimento, mas sim que ela nunca parou.”

A equipe prepara a câmera. O diretor se lembra de uma entrevista que realizou com Lenk em 2004, três anos antes de sua morte. “Perguntei a ela como foi parar de nadar, querendo me referir às competições. Ela me olhou séria e disse: ‘eu nunca parei’. Hoje nós filmamos o vestiário do Tietê e, além dos depoimentos, estamos tentando buscar imagens que demonstrem a passagem do tempo. O tempo é inexorável, mas não é determinante como você vai lidar com isso. A nossa sociedade é hoje muito descartável, e a gente vai destacando o que é mais antigo.”

Diante do que foi aquela casa, a Associação Atlética, o Clube Regatas do Tietê e o próprio rio, a fala de Iberê ganha força.

“Mas eu posso mudar de ideia na ilha de edição”, sorri o diretor, deixando no ar o resultado final do documentário.

A nadadora Maria Lenk

“Maria Lenk – a essência do espírito olímpico” resgatará os momentos marcantes da vida de uma das mais importantes atletas que o Brasil já teve a partir de depoimentos exclusivos e inéditos da própria nadadora.

Em 2004, a Pavirada Filmes, de Brasília (DF), iniciou de forma independente a produção de um documentário longa-metragem chamado “Lenk, o prazer de existir”. A proposta era construir uma cine-biografia sobre Maria Lenk, a primeira mulher brasileira a participar de uma Olimpíada, em Los Angeles 1936.

A equipe gravou Maria Lenk em vários momentos entre 2004 e 2005. Os encontros resultaram em aproximadamente 30 horas de material gravado. Então com 90 anos, Lenk estava lúcida e vivaz, enfrentando as dificuldades naturais à longevidade. “Minha filosofia é: a gente não pode pretender prolongar a vida, mas enquanto vivemos através do esporte, a gente pode viver mais.”

Em 2007 Lenk faleceu de parada cardíaca enquanto nadava na piscina do Parque Aquático do Flamengo.

“Maria Lenk – a essência do espírito olímpico” é um novo projeto. Um documentário média-metragem que permitirá compartilhar com todos os brasileiros as histórias e recordações generosamente contadas por Maria Lenk há seis anos. Um material único, de valor inestimável para a memória do esporte olímpico brasileiro.

Apresentação do projeto “Maria Lenk” durante o pitching

Ficha técnica

Documentário: “Maria Lenk – a essência do espírito olímpico”

Produtora: Pavirada Filmes e Produções Ltda.

Diretor: Iberê Carvalho

Localidade: Brasília (DF)